Alto funcionário chinês despromovido por causa de um Ferrari

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O Camberra Post publicou, em Março, uma imagem do acidente retirada da Internet DR

A notícia foi dada pela agência oficial chinesa, Xinhua, no fim de semana e diz que Ling Jihua, que estava na chefia do Politburo, foi transferido para um cargo menos influente, o de chefe do Departamento do Trabalho.

O jornal South China Morting Post, citando fontes não identificadas pelo nome, avançou que, no dia 18 de Março, o filho de Ling Jihua despistou o Ferrari em que seguia a alta velocidade. O rapaz, Ling Gu, de 20 anos, morreu e dois ocupantes ficaram feridos; um deles estava nu.

O acidente foi relatado nos microblogues logo em Março, mas as notícias foram retiradas pela censura militar chinesa. Algumas imagens do Ferrari negro de 800 mil dólares destruído também circularam online, mas também desapareceram.

Este caso soma-se à destituição de Bo Xilai, um político poderoso ligado a um escândalo de corrupção e cuja mulher foi recentemente condenada à pena de morte (provavelmente será comutada para prisão perpétua) pelo assassínio de um empresário britânico. E colocou, de novo, no centro do debate político a fortuna acumulada e o estilo de vida dos altos funcionários chineses, num ano em que o Partido Comunista realiza (no Outono) uma mudança de líderes, escolhendo os dirigentes dos próximos dez anos.

Ling tinha um cargo importante, que as agência noticiosas comparam ao de ministro nos governos ocidentais. E esperava, no Outono, obter mais uma promoção, subindo na hierarquia para chefe do poderoso Departamento da Organização, que controla as nomeações e demissões nos postos mais altos do regime.

Não tendo o Governo chinês esclarecido o motivo da despromoção, surgiram fontes a dizer que Ling tentou esconder o acidente e evitar uma investigação.

“A liderança decidiu que o escândalo do acidente era demasiado sério e Hu Jintao não pôde resistir à despromoção de Ling Jihua”, disse à estação de televisão Al Jazira Gordon Chang, autor do livro The Coming Collapse of China. Este analista de política chinesa considera que o Partido Comunista Chinês atravessa uma fase de grande “fragilidade”. “Não há um líder forte que imponha um fim a estes episódios. Assistimos a todos os problemas com Bo Xilai e agora é Ling. Quando não há uma liderança forte, não há quem diga à cúpula para parar com a guerra [interna]”, disse Chang. Referia-se às teses que defendem que o processo contra Bo Xilai foi, antes de mais, o resultado da guerra pelo poder entre facções.

Li Zhanshu, de 61 anos, substituiu Ling Jihua no Politburo. Foi dirigente juvenil (a base do poder de Hu Jintao, que quer assegurar que o próximo Presidente é um homem das suas hostes), mas as fontes do jornal The Guardian disseram que é menos próximo de Hu e que terá menos possibilidade de ter uma promoção como a que o líder despromovido tinha.

O Partido Comunista Chinês tem-se esforçado para transmitir uma imagem de estabilidade política e de transição calma.

“Penso que as mudanças no partido começaram há bastante tempo e que estamos agora a notá-las porque estão a envovolver gente mais bem colocada. Não partilho da opinião de que esta mudança [de liderança] seja tranquila e um acto institucional. O que vimos no último ano diz-nos que é tudo menos institucional”, disse ao Guardian Russell Leigh Moses, um analista político de Pequim.

A transição do Outono está, pois, longe de ser um processo tranquilo e coeso, com alguns observadores a considerarem que muitas das notícias que têm vindo a público sobre altos dirigentes e os escândalos que lhe estão associados têm como fonte rivais envolvidos na luta que se trava em Pequim.

Curiosamente, os Ferrari estão envolvidos nestes dois casos. As primeiras notícias sobre Bo Xilai davam conta do estilo de vida do seu filho, que conduzia um carro desta marca, mas vermelho. Agora o carro é preto. O Guardian lembrava um provérbio chinês: Não importa se o gato é branco ou preto, desde que apanhe o rato.

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