Lixo português
Nos últimos dois anos a produção de lixo caiu cerca de 12%. Boas notícias para o ambiente mas não tão boas se pensarmos nas suas implicações sociais
Se há profissão que sempre respeitei foi a dos homens e mulheres que recolhem e processam o lixo que todos produzimos diariamente. Não falo só das condições meteorológicas que enfrentam mas também dos cheiros nauseabundos e objectos que manuseiam. São e sempre foram mal pagos tendo em consideração a importância do seu papel na sociedade: mantê-la limpa. E o mesmo deveria aplicar-se a outras áreas além das da matéria física “inutilizada” mas que não deixam, por si só, de produzir lixo. E são muitas, lamentavelmente.
Infelizmente muitas dessas pessoas podem ter em causa o seu emprego. Falo das notícias que dão conta que nos últimos dois anos a produção de lixo caiu cerca de 12%. Boas notícias para o ambiente mas não tão boas se pensarmos nas suas implicações sociais.
Sobre as notícias abordam aspectos como a redução dos lucros, aumento das tarifas, cortes nas despesas e, em particular, que este “fenómeno” se deve à diminuição do consumo por parte das famílias. Não só. Há que ter em conta que nos últimos dois anos Portugal perdeu cerca de 250 mil pessoas entre emigrantes e imigrantes. Também o número de nascimentos tem vindo a decrescer. Factos que me parecem fundamentais na análise e preocupantes. É caso que para dizer que o país está a encolher.
E se não fosse por antecipar que algumas pessoas vão perder o seu emprego até dizia que me dava enorme satisfação ver os lucros das empresas envolvidas reduzirem consideravelmente. Não só porque pagam mal aos empregados mas também porque utilizam o produtor de resíduos como mão-de-obra gratuita e ainda o fazem pagar por isso. Como?
Todos pagam a tarifa de lixo na conta da água e tendo por base os consumos da mesma. O que significa que se eu for um tipo que se preocupa com a sua higiene e toma um duche diário e o vizinho do lado dois por semana pagarei mais independentemente de ele produzir o dobro do lixo e nem sequer fazer reciclagem.
Depois há a separação do lixo. Quem o faz está a cumprir com um dever mas, por outro lado, a contribuir para uma redução de custos das empresas de tratamento de resíduos urbanos (menos mão-de-obra). Dá trabalho e implica custos. Temos os recipientes em casa e os sacos do lixo às nossas expensas. Depois temos que carregar uns quatro sacos até aos contentores e colocar o lixo nos respetivos contentores, faça chuva ou sol. A recompensa? Um sentido cívico que passou a obrigação e uma conta a pagar no final do mês. Acredito que a seu tempo muitos portugueses vão sentir o peso da mudança.
Só lamento que o princípio da reciclagem no lixo urbano não se aplique a outros sectores da sociedade portuguesa. Era bem-vindo.
Uma outra notícia que chamou a minha atenção foi a da reunião da CIF com a CGTP relativamente ao aumento do ordenado mínimo nacional em 2014. Estranhei porque notícias recentes davam conta que o Governo defende o contrário. Mas depois entranhei quando li que se “espera” ou “existirão condições” para que tal aconteça.
E embora as intenções sejam boas só acredito quando vir o recibo dos trabalhadores. Parece-me mais uma operação de charme que outra coisa qualquer com ambos a tentarem mostrar serviço e a passarem por bons rapazes. É que até ao final do ano ainda faltam muitos meses e muita coisa vai acontecer. Basta olhar para as constantes projecções económicas: sempre erradas. O que me leva a crer que são negociações que vão parar ao caixote do lixo.
Já agora, para terminar e por falar em lixo, uma nota final: reciclem. Portugal precisa de reciclar.