O pó volta a adoçar o meu caminho. Regresso à estimulante e sempre imprevisível África, o continente onde mais nos revelamos, aquele que desembrulha o nosso subconsciente e encontra surpreendentes alter-egos. Não há lugar do mundo que tanto teste os nossos limites. E que explore assim os nossos remotos extremos.
Comerei poeira em milhares de doridos quilómetros em carcomidos transportes do mais bizarro, lotado e imprevisível possível — digestão feliz, pois é em viagem que recebo os maiores estímulos sensoriais de plenitude.
Apenas sei que chegarei ao Ruanda de peito aberto. Espero sair da Etiópia com os sentidos transbordantes de emoções. E histórias gravadas para a eternidade, rabiscadas com os locais e seu quotidiano.
Sinto saudades deste estranho masoquismo que indica caminhos de dificuldade, imprevistos, surrealidades... um outro mundo. Um cocktail de surpresas, desafios, alertas e (im)paciência(s), um menu de obstáculos que trilham e moldam o nosso crescimento.
Anseio rever estimulante vida selvagem, deliciar-me com peculiares transportes públicos, impacientar-me nas fronteiras. Espraiar-me em lagos, apreciar patrimónios da humanidade, visitar projectos de cooperação internacional. E fintar diarreias, wc’s aterradores, malária e outros mimos indesejados.
É tempo de engavetar a zona de conforto, esvaziar-me e deixar-me ir. Dar lustro ao entusiasmo e partir. Precioso, o bilhete da liberdade. Impagável o luxo de viver errante, aberto ao que o acaso tem para nos presentear.
Que esta partilha te traga comigo. Te estimule a partir. Que inspire os teus sonhos.