Separar águas

Saúdo a coragem do António José Seguro no combate por um Portugal de acordo com os valores mais profundos do PS.

No entanto, pagamos preços incomportáveis por creches e uma das maiores percentagens da Europa pela saúde.
Esta tragédia nacional acontece porque há um cancro na Democracia em Portugal: os negócios estão misturados com a política. Alguns políticos, em vez de defenderem os cidadãos, têm muitas vezes defendido uma minoria de interesses e lobbies de certos “empresários”, mais afoitos em assegurar um rendimento à custa do Orçamento do Estado do que em gerir bem empresas.

É um “pântano” de que já há muito se fala, sem ninguém assumir responsabilidades ou cortar com o passado. É este estado de coisas que tem afastado os portugueses da política, com maiores taxas de abstenção.

António José Seguro, desde que foi eleito por esmagadora maioria em 2011 líder do PS e reeleito em 2012, tem tido a coragem de defender os portugueses e apresentar propostas para acabar com o pântano. Desde o início, apresentou propostas, por exemplo, para separar o público do privado na Saúde, para que as listas de espera nos hospitais públicos não se tornassem uma carteira de clientes dos privados. No ensino, defendemos que não fazia sentido os privados receberem mais dinheiro do Estado por aluno que a educação pública. Finalmente, na política – a génese de todas estas decisões – António José Seguro desde muito cedo, como por exemplo a 5 de Outubro de 2012, exigiu que houvesse uma reforma do sistema político que conduzisse a mais ética e transparência, redução do número de deputados, para que estes fossem eleitos por círculos uninominais e a população conhecesse os seus representantes no Parlamento. Trabalhamos nestas propostas há muito tempo, as necessidades de reformas estão identificadas há muito, e há uma necessidade premente de as implementar.

Os lobbies e interesses, a quem Seguro não cede, obviamente resistiram a tudo com as mais variadas desculpas, como agora fazem contra as primárias. Não é por acaso que a comunicação social, refém dos grandes grupos económicos que vivem do Orçamento do Estado, já escolheu o seu candidato favorito. Por contraste, não é por acaso que, ao lado de Seguro, estão os trabalhadores e o movimento sindical, como Carlos Silva e João Proença, e aqueles que querem mais socialismo, mais esquerda genuína no PS e menos negócios. Não querem um regresso ao passado e querem que o PS seja o futuro da esquerda portuguesa, uma alternativa de Governo credível para os portugueses. Recordo que foi Seguro o primeiro secretário-geral que recebeu a Renovação Comunista na sede nacional e que celebrou um acordo muito recentemente. Interessante ainda é constatar que a esquerda mais à esquerda, somada, não cresceu nestas eleições (PCP, BE e Livre). Se assim aconteceu é porque o PS continua a posicionar-se no espaço da esquerda democrática.

Orgulhamo-nos do passado do PS, mas com a humildade de perceber os erros. António Costa não percebeu, nas europeias, que os portugueses também não querem quem não reconheça erros do passado e só ofereça generalidades e banalidades, sem ideias nem reformas, como fez na passada sexta-feira, no Porto. Temos de separar aqui águas também: nós somos um partido de esquerda, e ser de esquerda é pensar no coletivo antes do individual.

Tenho o privilégio, como tantos outros militantes, de estar neste combate por ideias e valores. Saúdo a coragem do António José Seguro no combate por um Portugal de acordo com os valores mais profundos do PS.
Quem não estiver nesta batalha dura e difícil vai ter pena de nela não ter participado. Só queremos neste combate político homens e mulheres sem medo, sem medo de lutar por uma ideia antiga mas muito necessária hoje: socialismo em liberdade.

Secretário nacional do PS

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