Sónia Teixeira, uma árbitra na Liga masculina de basquetebol

Foto
Sónia Teixeira apita regularmente nas competições europeias FIBA

O primeiro contacto de Sónia Teixeira com o basquetebol não foi feito através da arbitragem. Tal como a maioria dos árbitros da modalidade, primeiro foi jogadora. Não é uma ponte obrigatória, mas é significativa. “Se não fosse assim, não havia árbitros”, disse ao PÚBLICO a lisboeta de 38 anos, metade deles passados como árbitra. Perceber o jogo também com experiência de praticante é uma cábula determinante numa modalidade em que grande parte da acção se passa longe da bola - para onde os olhos são atraídos – e tão técnica como o basquetebol.

Depois de tirar o curso de juiz de basquetebol, teve de optar entre ser árbitra ou oficial de mesa - também uma função imprescindível, com tantos pontos, faltas, descontos de tempo, cronómetros e substituições para apontar ou gerir -, mas no seu caso nunca chegou a ser uma escolha. “Sempre fui muito dinâmica, irrequieta, e via-me mais dentro do campo do que na mesa”, explicou a única mulher que arbitra na Liga Portuguesa de Basquetebol. Muito pouco tempo depois, fez a estreia com o apito. “Lembro-me como se tivesse sido hoje”. Foi em Abril de 1997, num encontro entre o Barreirense e o Action Sports, de Espanha, no Xirabasket. E foi ainda um pouco mais especial, porque foi uma recompensa por ter sido uma das melhores classificadas no curso. O prémio foi apitar na competição disputada em Vila Franca de Xira, durante anos a fio o torneio dos escalões de formação de referência no país, fazendo dupla com um árbitro internacional, António Pimentel, um dos mais conceituados da modalidade.

“Ao intervalo, perguntou-me, na brincadeira, se havia algum problema com o meu apito. Mas no final o treinador da equipa espanhola elogiou-me e mostrou-se surpreendido por ser a minha estreia”. E nunca mais parou. A dada altura, conciliou três funções: árbitra, jogadora no Liceu Pedro Nunes (II Divisão) e treinadora de minibasquete no Olival Basto. Destacou-se o suficiente para chegar à Liga Portuguesa de Basquetebol, em que está há vários anos, e para ser internacional – apita na Euroliga, na Eurocup e esteve na final-four da Supertaça Europeia, para já só nas versões femininas destas competições.

Por ser árbitro, já viveu algumas situações mais difíceis, “mas nenhuma em que tivesse problemas reais”. Por ser mulher, já lhe chegaram a dizer para ir “coser meias”, mas é maioritariamente tratada com respeito. Provavelmente a única questão logística resumir-se-á, quando faz tripla com homens e não há mais do que um balneário disponível, a usá-lo à vez.

Recentemente, foi notícia a greve de alguns árbitros às jornadas iniciais da Liga, por atraso no pagamento dos prémios. Pode viver-se da arbitragem? “Nem pensar nisso”, responde Sónia Teixeira, que arbitra sete ou oito jogos por mês, e ainda vê os treinos e o trabalho técnico que é preciso fazer roubarem-lhe mais tempo. “A nível europeu devemos estar na cauda da Europa. Há o gosto pelo jogo, mas não se pode depender financeiramente da arbitragem”, considerou a árbitra, bancária de profissão.

Já agora, fica a informação: em Portugal, cada árbitro ganha 100 euros por jogo na Liga masculina, 70 na Proliga (o 2.º escalão masculino) e 30 na Liga feminina, valores que ainda são alvo de tributação do IRS. Nas provas europeias, as verbas de referência são líquidas: 350 euros na fase de grupos da Euroliga feminina e 200, 300 ou 400 euros, dependendo da ronda, na Eurocup feminina.

 

Sugerir correcção
Comentar