Crimes no ciberespaço: antes prevenir que remediar

Preocupante é a estreita associação entre os piratas informáticos e as organizações extremistas que operam na internet – desde os grupos jiadistas que recrutam “lobos solitários” vocacionados para cometer atentados terroristas até aos hackers motivados por interesses financeiros,

O mundo contemporâneo está cada vez mais alerta para o problema do ciberterrorismo, que tarda em encontrar solução. Deixou de ser peça de um enredo de ficção científica ou dos filmes que antecipam o futuro para se tornar uma das maiores ameaças às democracias liberais no espaço geográfico em que Portugal se insere.

Os piratas informáticos, agindo em rede e obedecendo a poderes obscuros, abusam da tolerância das sociedades livres e das lacunas ainda existentes nos nossos sistemas jurisdicionais para as suas operações de sabotagem em larga escala que têm sido abundantemente documentadas nos órgãos de informação.

A utilização do ciberespaço para operações de guerrilha virtual, à margem das regras democráticas, terá contribuído para a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos numa manobra orquestrada pelos serviços de informação russos, nada interessados numa vitória da candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton.

O ministro britânico da Defesa, Michael Fallon, denunciou sem rodeios a existência de um “perturbante padrão” de interferências de Moscovo não só em países que integraram a órbita soviética antes da queda do Muro de Berlim, como a Bulgária e os Estados bálticos, mas também na Europa Ocidental. E Suleyman Anil, responsável máximo da NATO para a prevenção dos ataques informáticos, não duvidou em equiparar o ciberterrorismo a uma ameaça militar equivalente à instalação de mísseis ofensivos contra o Ocidente.

A invasão dos circuitos informáticos por agentes cibernéticos russos terá contribuído para o desfecho de dois referendos em 2016: o de Abril na Holanda, que rejeitou a celebração de um tratado político-económico entre a União Europeia e a Ucrânia, e o de Junho no Reino Unido, que decidiu por escassa margem (51,8% contra 48,2%) dizer adeus ao espaço comunitário europeu, a que Londres tinha aderido em 1973.

O ciberespaço configura-se assim como um terreno de confrontação política numa nova Guerra Fria que começa a desenhar-se entre as grandes potências económicas, diplomáticas e militares do planeta. Russos, americanos e chineses, cada qual com os seus aliados estratégicos, rivalizam hoje em ataques já não em palcos reais mas no terreno virtual, recorrendo à inteligência artificial, ao cibercrime organizado e à difusão de notícias falsas para perturbar o exercício da governação em Washington, Moscovo e Pequim.

Mais preocupante ainda é a estreita associação entre os piratas informáticos e as organizações extremistas que operam na internet – desde os grupos jiadistas que recrutam “lobos solitários” vocacionados para cometer atentados terroristas até aos hackers motivados por interesses financeiros, ramificados nos sindicatos do crime para operações de lavagem de dinheiro. Sem esquecer a ciberespionagem em dispositivos móveis, com níveis de sofisticação impensáveis há poucos anos.

Estes grupos têm desenvolvido as suas próprias armas informáticas, usando algoritmos e processos de encriptação que lhes permitem invadir e neutralizar sistemas aparentemente seguros, visando conduzir à irrelevância “um povo pronto a deixar-se seduzir pela servidão”, como alertou Max Weber há mais de um século.

Neste contexto, tanto os órgãos estatais como as empresas privadas devem desenvolver estratégias de prevenção e combate ao crime organizado nas autoestradas virtuais. Trabalhando em conjunto com técnicos informáticos, especialistas das corporações policiais e peritos bancários para ampliar e solidificar os circuitos da cibersegurança. Tendo sempre por base um provérbio muito antigo mas aplicável à tecnologia dos nossos dias: é sempre melhor prevenir do que remediar.

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