Gaia Todo Um Mundo é um festival sobre tudo e mais alguma coisa

Um barco em pedaços, um coelho reciclado ou umas escadas coloridas – é este o cenário do Centro Histórico de Vila Nova de Gaia. A primeira edição termina este domingo.

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Foi feito um "esforço para que os moradores percebessem a ideia e aceitassem ver as suas paredes alteradas". Adriano Miranda

Chama-se Gaia Todo Um Mundo (GTM) e tem como temas as alterações climáticas, a sustentabilidade, o ambiente e a universalidade e, para isso, dinamiza a cidade e divide a arte por vários espaços até ao final da tarde de domingo: música, artes visuais e performativas, pensamentos, debates, dança e até gastronomia em mais de 50 horas de programação.

“A ideia é que [o festival] se repita todos os anos com a temática do desenvolvimento sustentável, que tem como objectivo tratar um tema específico e universal, e que verse esta temática da sustentabilidade”, explica Ana Carvalho, uma das responsáveis pela organização do GTM. “Este ano começamos a trabalhar as alterações climáticas porque é sempre um tema actual. A ideia é reunir as pessoas para debaterem o tema, mas também trazerem propostas de transformação”, e foi esta a premissa que levou à união da arte e da manifestação como uma forma de “reflexão”.

São mais de 200 intervenientes, oriundos dos cinco continentes, para participarem em mais de 70 acções de “sensibilização e alerta”. A animação faz parte do fórum, com apresentação de espectáculos, encontro de coros e sessões de contadores de histórias. Existem rotas de activistas e marionetas, de petiscos e arte por toda a cidade – esta é uma forma de possibilitar a todos os visitantes uma maior interacção com a temática do projecto.

A área de arte urbana (rota sustentável), com a curadoria de Miguel Januário e Lara Seixo Rodrigues, conta com artistas com um “vasto historial de trabalhos na área do ambiente”. Tendo sempre por base o desenvolvimento sustentável e as alterações climáticas, são várias as obras patentes no Centro Histórico de Vila Nova de Gaia, algumas permanentes, outras passageiras, até porque “a street art tem sempre a efemeridade como inimiga”.

Os artistas, nacionais e internacionais – Cumul Collective, Bordalo II, Isaak Cordal, Pascal Ferreira, Pastel, Mariana a Miserável, Marco Mendes, Nicolau e o próprio Miguel Januário – pintam paredes e escadas, ilustram vazios, fazem esculturas, sobem gruas, criticam e manifestam-se. Pneus em paredes, um coelho reciclado, um barco rabelo em pedaços são apenas algumas das obras patentes. “Precisámos desta linguagem cá, destes recursos, da borracha, do lixo excedente que é, de algum modo, o que causa a subida das águas, das temperaturas. Precisámos de ter consciência”, justifica Miguel Januário.

Os espaços cedidos pelos moradores ganham cor. “Entre a Câmara Municipal de Gaia e a organização do GTM fez-se um esforço para que os moradores percebessem a ideia e aceitassem ver as suas paredes alteradas”, revela o artista, mentor do projecto MaisMenos. As obras encontram-se um pouco por todo o lado e nos sítios mais improváveis; “nos lugares mais trapaceiros”, diz “Quando eu e a Lara começámos a estudar os artistas que deviam vir cá, ter um leque muito alargado de estilos e visões foi uma das nossas primeiras premissas”, acrescenta.

O objectivo é que o GTM se torne um festival universal: “Pretendemos juntar, no mesmo espaço, visões e opções de vários continentes, de vários países”. Nos próximos anos, esperam-se novos temas. “A ideia”, esclarece Ana Carvalho, “é que o GTM seja sempre um ponto de convocação da cidadania, portanto, serão sempre temáticas universais e que nos façam reflectir”.

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