“Eu sou o criador dos primórdios da Internet". Foi desta forma que Chris Unwin, autor do projecto The Creator Class — plataforma criada em Novembro de 2014 "por criadores e para criadores" —, se apresentou a Abrantes, ao 180 Creative Camp e aos participantes do workshop. “Sempre quis contar às pessoas o meu percurso... E aqui estamos nós”, disse ao P3. Durante a conversa usou muitas vezes a palavra "Internet".
Chris concorreu a uma bolsa de estudos para entrar na universidade. "Quando soube que não tinha recebido a bolsa comecei a questionar-me enquanto artista". Mudou-se, então, de Vancouver, que considera “uma cidade adormecida”, para Toronto para estudar Sociologia. A nova cidade e o curso despertaram-no num sentido social. "O interesse na sociedade também pode ser transmitido através da arte”.
O objectivo de Chris, com agora 35 anos, era trabalhar em “media arts” e, com isso, divulgar o trabalho de pessoas que, tal como ele, não têm medo da diferença. Começou a trabalhar na MTV e cedo percebeu que o seu sonho não correspondia às suas necessidades enquanto artista e criador, estava limitado “às regras impostas” e ao rótulo “o Chris da MTV”. Não considerava que devia seguir os padrões impostos pela sociedade e ter uma “carreira convencional” e foi através do “vasto mundo que é a Internet” que percebeu que existem pessoas reais, com paixões genuínas e interesses distintos. Despediu-se e decidiu, claro está, criar. Nasceu então o The Creator Class, uma espécie de canal dedicado a criadores das mais diversas áreas: música, moda, fotografia, vídeo, aventura. “A Internet é a melhor tela para a arte”, disse.
“Vamos aprender juntos. Quero ensinar, mas também quero aprender”, afirmou o canadiano. Mas “não é possível construir o abstracto sem aprender o concreto” e, por isso, o workshop desenvolveu-se de forma bastante técnica. A troca de ideias entre participantes e Chris foi constante. No entanto, não são apenas as ideias que impulsionam a criatividade. Aliás, “existem sistemas de criatividade”: compreender o valor da nossa própria história é uma delas.
As “histórias inspiram e fazem-nos criar”, afirmou. O segredo está em “perceber qual é o nosso projecto criativo com base na nossa história”. Também “a comunidade que nos rodeia tem um importante papel para o desenvolvimento do artista”. Um exemplo é o Shoot for Peace, um projecto do The Creator Class que permitiu que um grupo de crianças pudesse aprender a fotografar. Uma das noções a reter é que a “Internet liga as pessoas, gera oportunidades e experiências e impulsiona a criatividade”. Apesar de existir ainda o “estigma” associado a quem pretende trabalhar “neste mundo”.
“Estamos a tornar-nos mais ou menos criativos? Existem, neste momento, mais carreiras criativas? Como será o futuro?” – numa espécie de debate com a turma que o ouvia atentamente. As respostas foram várias, mas a conclusão apenas uma: “A arte estará presente, cada vez mais, na Internet e cada vez menos no ‘mundo real’, em forma física. E o mundo dos artistas será mais competitivo”. A solução é encontrar o equilíbrio entre a criatividade e o negócio e ajudar que os artistas pensem não só como artistas, mas como ‘business men’. “Temos de nos saber distinguir”, afirmou Chris Unwin.
"A criatividade aplica-se à vida. As nossas vidas são produções, analogias. É necessário uma equipa para pintarmos a nossa tela de criatividade", sublinhou o criador. E é de criatividade que se faz o 180 Creative Camp. Concertos, filmes, mais workshops e diversas actividades serão uma constante no programa. "What Else Europe", Put Put, Cave Story, Inês Nepomuceno e Conjunto Corona serão alguns dos responsáveis por fazer mexer os próximos dias.