A propósito dos rankings
Seria bom que estas listas pudessem refletir as verdadeiras aprendizagens dos alunos ao longo da sua passagem pela escola.
Todos os anos por esta altura é quase lugar-comum, para todos os ligados às questões da educação, discutir os rankings das escolas apresentados pelos diversos órgãos de comunicação. De facto é sempre um tema apetecível, até porque permite a todos apresentar e defender as mais diversas opiniões, sempre fundadas em certezas provenientes de critérios, convicções e pré-conceitos construídos, todas elas válidas mas quase sempre valorizando apenas um dos lados de uma moeda que, como todas as moedas, tem duas faces igualmente importantes.
Os rankings colocam sempre as escolas, públicas e privadas, em comparação e, desde logo, tentam comparar os resultados independentemente da sua diversidade, seja ela nacional, regional, física ou humana. Mesmo com a atual metodologia de “controlo” de alguns fatores fundamentais como a ponderação socioeconómica do perfil social dos alunos, sabemos que isso não é suficiente para que a comparação entre as escolas não seja uma injustiça, na medida em que se tenta comparar o incomparável. “A realidade é muito mais complexa do que supõe uma simples classificação de escolas por notas em exames nacionais.” Mesmo assim, não deixamos de referir que, independentemente das opiniões diversas, cada escola olha para essa listagem ordenada como um instrumento de trabalho importante, tentando sempre perceber claramente a sua posição e as razões de possíveis alterações.
Para os encarregados de educação mais esclarecidos e com capacidade de escolha, o que acontece maioritariamente nas zonas urbanas do litoral, o ranking é uma ferramenta de trabalho importante na medida em que lhes permite fazer opções por escolas, baseadas nos resultados por elas apresentados. De facto, uma boa parte da polémica à volta dos rankings passa por aqui, até porque o seu espírito está nos antípodas do que é a filosofia subjacente ao perfil do aluno à saída do secundário e dão uma imagem redutora das escolas, atendendo apenas aos resultados dos exames e não a projetos educativos que, em muitos casos, são de excelência, mesmo comparados com os privados. Por outro lado, a escola pública é inclusiva, dá resposta a imperativos constitucionais fundamentais como a obrigatoriedade e a equidade e valoriza claramente a formação equilibrada dos alunos independentemente da sua proveniência social, regional ou cultural. Como referia François Dubet, “escola mais justa não é somente aquela que anula, o mais justamente possível, a reprodução das desigualdades sociais e promove o verdadeiro mérito, é sobretudo aquela que garante o nível de ensino mais elevado ao maior número de alunos e, sobretudo, aos alunos mais fracos”.
Um novo modelo de acesso ao ensino superior, absolutamente necessário no nosso país, permitirá diluir diferenças e poderá garantir uma formação mais equilibrada e diversificada dos jovens para que a passagem pelo ensino secundário deixe de ser um tempo de treino para exames de acesso à universidade em função das expectativas de alunos e famílias, e passe a ser um tempo de preparação sólido para a frequência do ensino superior. É preciso que o ensino secundário consiga realizar essa sua verdadeira função e deixe de ser o que tem vindo a ser, ampliado pela discussão à volta de competições estéreis que culminam em cada ano na publicação de rankings que, no limite, mais não são do que publicidade gratuita para escolas que ferozmente lutam, em cada ano, por lugares cimeiros nessas listas. Seria bom que essas listas pudessem refletir as verdadeiras aprendizagens dos alunos ao longo da sua passagem pela escola e não refletissem apenas conhecimentos testados numa única prova.
Como conclusão, é importante referir ainda que, independentemente de opções ou perspectivas, algumas das condições de trabalho postas à disposição das escolas privadas seriam muito bem-vindas às escolas públicas e garantiriam talvez mais sucesso nas aprendizagens dos nossos alunos, afinal a única razão pela qual estamos na educação.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico