Era uma vez um outlaw

Josh T. Pearson deixa a depressão para trás, num disco que é tão melhor quanto mais furioso.

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Josh T. Pearson: o que quer que esta figura misteriosa e estranhíssima ande a tomar — esperemos que não páre

E à sexta canção dá-se a explosão: as guitarras carregam como cavalos furiosos que se libertam do jugo de uma sela, as baquetas atacam a tarola e os pratos como se nelas residisse O Mal, a voz procura subir à tona, é como se alguém tivesse dado uma injecção de adrenalina em Papa won’t leave you, Henry, esse temaço escrito por Nick Cave, e no fim, já depois de uma terceira e quarta guitarras se juntarem à destruição, ficamos prostrados pelo desespero na voz de Josh T Pearson, pela imensidão de som que se abateu sobre nós, qual temporal moralista que se tornasse verdugo dos nossos pecados.

É uma faixa rara, Loved straight to hell, mais ainda tendo em conta que se segue às duas canções mais calmas de The straight Hights, Straight laced come undone e Damn straight, dedilhados de guitarra bonitos mas que não apontam ao espanto. Mas talvez seja a epítome lógica de um disco dedicado à libertação —pessoal de Josh T Pearson e enquanto compositor. A bordo dos Lift to Experience Pearson encontrou culto com The Texas-Jerusalem, disco duplo de 2001; quando voltou aos discos, com Last of the Country Gentleman, de 2011, transformara-se num cowboy urbano e criava algumas das mais belas, negras e lentas baladas acústicas sobre pecado e redenção.

Nos sete anos que mediam os seus dois discos a solo Pearson cortou barba e cabelo e aprendeu “a ser livre, feliz e tomar drogas sem sentir culpa”. Certo é que entra por Straight Hits adentro como um comboio sem freios à procura de recuperar o tempo perdido: Straight to the top e Give it to me straight largam os acordes menores em favor de um rock disparado cheio de coros e refrões enormes; enquanto Straight at me porá bares do sul da América em alvorolo, com as suas palminhas, o seu falsete, o seu órgãozinho parolo e perfeito. Não é tudo assim: por vezes Pearson regressa à guitarra dedilhada mas sem a depressão encantatória de Last of the Country Gentleman. Já quase no fim regressa o épico: A love song (set me straight) começa cheesy, ganha épico no órgão e depois — por pandeireta, gritos e o caos — é tomada por uma ascensão diabólica, como se uma febre religiosa invadisse cada compasso da canção até a levar ao paroxismo.

Como terão notado, todas estas canções têm “straight” no nome, o que talvez seja uma brincadeira com a “descoberta” da vida drogada e sem culpa. O que quer que esta figura misteriosa e estranhíssima ande a tomar — esperemos que não páre.

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