Em Ciência, comunicar é essencial!
O diálogo com a sociedade é vital, sobretudo na identificação de temas que carecem ser investigados e de problemas que precisam de ser solucionados
A imagem do investigador solitário e alheado do mundo faz parte do passado. Hoje, a investigação científica faz-se de diálogos: com os pares, com outras áreas do saber, com a sociedade e com os estudantes.
Aos pares, comunicam-se os novos avanços do conhecimento científico, desde os mais modestos aos mais disruptivos, lançam-se desafios e novas questões. Esta é a forma mais usual de comunicação técnica, sobretudo sob a forma de artigos científicos ou via comunicações apresentadas em congressos da especialidade. É, também, o modo mais tradicional e, eventualmente, mais valorizado, de medir a qualidade e quantidade de trabalho científico, com implicações em progressões académicas ou na atração de financiamento. Porém, o alcance e desafios da investigação científica extravasam amplamente a comunicação entre pares.
Sair da zona de conforto e vencer barreiras de linguagem ou de metodologia inerentes a cada área científica são novos desafios que se colocam, hoje, à comunidade científica. A partilha de espaços e o incentivo para abraçar causas comuns levam ao estabelecimento de sinergias entre investigadores de diferentes áreas do saber, o que, por si só, já constitui um incentivo à interdisciplinaridade. Porém, a maior motivação será o alcance e real impacto da investigação realizada quando diferentes áreas do saber se entrecruzam.
Comunicar e trabalhar em equipas que integram, além das ciências fundamentais, engenharia, ciências sociais e humanas ou artes, poderá ser a única via para responder a grandes questões dos nossos dias, como a pobreza e exclusão social, questões ambientais ou da alimentação.
O diálogo com a sociedade é também vital, sobretudo na identificação de temas que carecem ser investigados e de problemas que precisam de ser solucionados, seja através de meios tecnológicos ou do estabelecimento de medidas legislativas. É, por exemplo, por esta via que são revistas as diretivas sobre os níveis de poluição ou sobre a qualidade da água. Há, também, o crescente interesse na incorporação na ciência de conhecimento empírico, o dito saber-de-experiência-feito, por exemplo, na agricultura ou na sua articulação com as condições climáticas locais. A participação ativa dos cidadãos na geração de conhecimento é, também, uma realidade com impacto crescente, por exemplo, no estudo do microbioma humano, na exploração da biodiversidade ou na avaliação da qualidade da água numa dada região. Porém, seja em que modalidade for, o envolvimento da sociedade só é possível se se compreender e confiar na ciência. Comunicar de forma simples e clara, embora rigorosa e verdadeira, passível de ser compreendida por cidadãos, jornalistas, legisladores ou decisores políticos, é a outra missão, nem sempre fácil, dos investigadores.
Por último, mas não menos importante interlocutor dos investigadores são os estudantes – acompanhá-los num processo de aprendizagem em ambiente de investigação, estimula a criatividade, capacidade para saber questionar, pesquisar informação, procurar evidências, alinhar argumentos, resolver problemas. Quando a informação está à distância de um clique, saber usá-la é o essencial. Aprender em contexto de investigação contribui para formar cidadãos conscientes e responsáveis e profissionais versáteis, capazes de responder a diversos desafios onde a mudança e a incerteza são regra.
Docente e investigadora da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa - Porto; vice-presidente para a Investigação e Internacionalização da Universidade Católica Portuguesa - Porto