“Há uma certa desafeição à Igreja e particularmente à Igreja Católica”

Os períodos de prosperidade económica levaram quase sempre a um “abaixamento da relação com o divino”, lembra o bispo do Porto, D. Manuel Linda.

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Um estudo sobre a Área Metropolitana de Lisboa apurou que apenas 54% das pessoas se dizem católicas e que 35% já não se revêem em nenhuma religião. Esta é uma caracterização que se pode aplicar, por exemplo, à sua diocese?

Nós mandámos fazer um grande inquérito ao Centro de Estudos de Opinião da Universidade Católica em 2012/2013 e os dados não eram bem esses: eram mais optimistas. E não acredito que, nos cinco anos que passaram, tenha havido um descalabro assim tão grande. Mas o que é realidade é isto: há, da parte de uma população muito forte, uma certa desafeição à Igreja e particularmente à Igreja católica.

A que se deve essa desafeição? A uma recusa do aspecto normativo da Igreja Católica quanto à vida quotidiana e afectiva?

Pode ser essa uma razão, mas, se olharmos para a História, vemos que as épocas de prosperidade económica quase sempre coincidiram com um abaixamento de costumes e consequentemente também com um abaixamento da relação com o divino.

Mas 13,1% dos inquiridos declararam-se "crente sem religião". Não acusam essa negação da espiritualidade que menciona.

É verdade. E isso é de interrogar. É um fenómeno novo que não sei interpretar.

Nesse estudo, 67,9% dos que se diziam católicos declaravam predisposição para aceitar a eutanásia “dentro de certos limites”. Como é que encara essa conclusão, considerando que a Igreja se posicionou vincadamente contra a eutanásia?

Nós sabemos que da fé nasce uma moral. E a moral católica passa pela não-aceitação da eutanásia. Mas aqui também é importante saber o que está em jogo. Porque muitas vezes chama-se eutanásia àquilo que efectivamente o não é. Por exemplo, nas técnicas de analgia, de retirar a dor, sabemos que determinados medicamentos - a morfina - causam efeitos secundários que podem encurtar o período de vida. Neste caso, não se pode falar em eutanásia, porque o objectivo primeiro é tirar a dor, não é apressar a morte. Mas muitas vezes há quem chame a isto eutanásia. Portanto, era preciso definir concretamente os termos.

Não o vê como sinal de afastamento da posição oficial da Igreja?

Não o vejo como sintonia com a posição da Igreja, mas também não é chocante para mim e para a minha mentalidade.

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