Carros e vinhos, a quadratura do círculo

Um estudo de 2017 da empresa inglesa Knight Frank mostra que automóveis e vinhos ocupam o topo da lista de objectos de desejo dos mais abastados. Possivelmente, se o inquérito abrangesse camadas de população da classe média, essa ordem não seria alterada, pelo que um evento que possa integrar vinhos e carros reúne o melhor de dois mundos.

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“Se conduzir não beba.” Como conciliar então um passeio automóvel todo-o-terreno com uma feira com prova de vinhos? A solução para esta quadratura do círculo é moderação e separar no tempo os eventos. Com bom senso, é possível conjugar vinhos e carros. Foi isso que, pela segunda vez, fizeram a Câmara Municipal de Pinhel e o Clube Escape Livre, ao organizarem, de 16/11 a 18/11, um passeio todo-o-terreno pelos trilhos à volta de Pinhel em combinação com uma visita à Feira Beira Interior – Vinhos e Sabores.

Um pequeno copo de vinho a acompanhar uma refeição não muito pesada não irá diminuir significativamente a capacidade do condutor. É muito pior conduzir com fadiga, após uma noite mal dormida ou uma refeição pesada. Isso sem falar do uso do telemóvel ao volante. Assim, não é incompatível, durante o dia, conduzir por trilhos que rasgam montes e vales, com cenários só ao alcance de quem sai do asfalto, visitar aldeias históricas e monumentos e, à tarde/noite, desfrutar de vinhos e produtos regionais (queijos, doces, azeite, mel, etc.).

O carro

Para efectuar este passeio, a Mercedes-Benz, um dos patrocinadores do evento, disponibilizou à Fugas uma pick-up de cabina dupla, classe X 250d 4 Matic com capota rígida. Este veículo é um gigante em todas as acepções da palavra. Pelas suas dimensões, 5,34m de comprimento, 1,92m de largura e 1,82m de altura, não cabe em qualquer lugar. Por outro lado, este elefante digno de marajás é a mais luxuosa das pick-ups à venda, com sistemas de infoentretenimento, navegação e ajudas à condução que minimizam as dificuldades originadas pelas suas dimensões. O interior, com bons materiais e acabamentos, é muito espaçoso para os cinco ocupantes e a mala enorme – é tão grande e comprida (1,82m) que se torna difícil chegar aos objectos no seu fundo, junto ao habitáculo. A condução é confortável para um veículo das suas características. Com 190cv de potência, uma boa caixa automática de sete relações (embora um pouco mais lenta a reagir do que noutros modelos da Mercedes), tracção integral se necessário, bloqueio do diferencial traseiro, auxílio à condução em descidas, redutoras e uma boa altura ao solo, enfrenta sem problemas as subidas mais íngremes e descidas mais acentuadas em pisos irregulares, desde que os trilhos não sejam demasiado estreitos. Em estrada, a velocidades a rondar os 120 km/h, fizemos uma média de 8,0 l/100km, muito aceitável para um veículo com mais de 2,3 toneladas. Com um preço-base de 47.809€, o veículo que nos disponibilizaram, recheado de opcionais e com estofos em pele, custa 73.233€ com IVA.

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A Feira Beira Interior – Vinhos & Sabores

A tarde de sexta-feira é preenchida com a recolha de documentação e a inauguração do evento. Os portugueses que vivem no litoral esquecem-se, por vezes, que o interior existe e luta para sobreviver. Disso se queixa Rui Ventura, presidente da Câmara de Pinhel, no discurso de abertura do certame: “Convidámos há dois meses a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, mas não obtivemos qualquer resposta. No início da semana, telefonei e a reacção foi, no dia seguinte, um seco e-mail a recusar o convite. Aí, voltei a telefonar à governante a expressar o meu desagrado pela falta de elegância.” E acrescenta: “O interior não precisa de declarações, mas sim de acções. Até porque não iríamos pedir qualquer dinheiro, somos auto-suficientes. Porém, desejamos atenção para o que se passa e se faz, numa parte esquecida do território.”

No certame, os visitantes podem provar e adquirir nos diversos stands vinhos, azeite e mel, enchidos, queijos e doçaria regionais (neste particular, destaque para as cavacas de Pinhel, que, para muitos, são mais saborosas e requintadas que as conhecidas cavacas das Caldas). Mas este evento tem um âmbito muito mais lato que o dos 26 concelhos da região, cruzando a fronteira: em simultâneo, decorre no sábado a cerimónia de encerramento e distribuição de prémios do 14.º Concurso Internacional de Vinhos VinDuero/VinDouro, com um jantar de gala acompanhado por alguns dos vinhos a concurso: mais de 500, de 160 produtores, procedentes de mais de 50 menções geográficas de Espanha e Portugal, sendo entregues 56 medalhas de ouro e 91 de prata. Na Menção Geográfica, o tinto D. Manuel I da Adega Cooperativa de Pinhel, com uma medalha de ouro, é o mais pontuado. O grande vencedor, porém, é um vinho espanhol da região do Jerez – o Palo Cortado de la Cruz de 1767.

Por montes e vales

No sábado, o prato forte é o passeio todo-o-terreno, que preenche o dia inteiro, desde manhã cedo até ao cair da noite. A grande maioria dos que alguma vez estiveram num evento desta natureza fica cliente. Com adrenalina q.b., há o cuidado de escolher percursos que não ponham em risco a integridade dos veículos e das pessoas. No caso, 39 viaturas e 98 participantes, que vão, por veredas e estradões à volta de Pinhel, descobrir paisagens que não é possível apreciar se não se sair do asfalto. É então que constatamos as qualidades, bem como as menores aptidões do Mercedes-Benz classe X que conduzimos. O principal problema são as suas dimensões – largo e comprido, torna difíceis as manobras em trilhos estreitos ladeados de pedras. Por outro lado, cruzar cursos de água ou enfrentar caminhos com piso irregular e pedregoso, em subidas e descidas literalmente a pique, é brincadeira de crianças para esta pick-up, algo comprovado em corta-fogos da serra da Marofa. O ritmo pausado, uma característica do todo-o-terreno, permite apreciar a paisagem montanhosa e a paleta de cores outonal, em tons que vão do verde ao vermelho-fogo, passando por dourado e castanho.

E como estes passeios incluem sempre uma componente cultural, no programa está incluída uma visita guiada ao castelo e Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo.

Domingo, o programa é mais leve, com uma visita à aldeia do Lamegal, onde nos é oferecido um lanche com castanhas, jeropiga, queijo, pão e bolos caseiros. O final, depois de estacionadas as viaturas, é uma deslocação a pé até ao bem preservado castelo de Pinhel, que domina a região circundante. O almoço de encerramento é efectuado nas instalações da Adega Cooperativa de Pinhel, com gastronomia e vinhos da região.

O alojamento

Nos dois dias em que pernoitamos na zona de Pinhel, ficamos alojados na Casa de Campo Encostas do Côa, um turismo rural em Quinta Nova, uma aldeia a cinco quilómetros da cidade. Com 17 quartos, piscina ao ar livre, ginásio, salão de jogos e bar, este estabelecimento oferece todas as comodidades essenciais. Porém, o que o distingue para melhor de um grande hotel de luxo é a maneira como José Fernandes, o seu proprietário, recebe os hóspedes. Mais que simples clientes, são tratados como amigos. O bar tem uma ampla variedade de bebidas a pagar, mas, para quem aprecia, José Fernandes oferece uma excelente aguardente branca caseira, com os hóspedes a servirem-se livremente de garrafa colocada à disposição. Nesta época, também são convidados a apanhar e levar para casa os marmelos que carregam as árvores da horta. O pequeno-almoço, abundante, inclui peras e maçãs dos pomares da propriedade, sumos, café, leite, iogurtes, carnes frias, queijos, pão, bolos e doces caseiros, incluindo mel, que, tal como o azeite, é de produção própria, ambos podendo ser adquiridos no local.

A Fugas participou no evento a convite do Clube Escape Livre

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