Fotografia
“Sem pressa”, rumo a Oriente: a viagem de Gabriel sobre carris
À sexta-feira de manhã há quem entre no comboio para ir para o trabalho. Já Gabriel Soeiro Mendes apanhou o expresso rumo a Oriente. Durante três semanas, em Janeiro de 2018, o fotógrafo e jornalista percorreu a Europa no caminho-de-ferro até chegar às portas da Ásia: de Lisboa a Istambul, a jornada desdobra-se em retratos e histórias de quem lá vive.
Comprou os bilhetes de viagem e apenas tinha em mente chegar à cidade turca. “Foi libertar-me das amarras de programar tudo e ter voos marcados, simplesmente acordar e apanhar o comboio que apanhava todos os dias em Paço de Arcos”, confessa ao P3. Gabriel saiu de Portugal em direcção à Turquia, passando por Espanha, França, Itália, Áustria, Hungria, Roménia e Bulgária. “Sem dias contados”, nem caminho traçado, o travel blogger apenas decidia a próxima paragem na véspera ou mesmo no próprio dia. Mas não se limitava a visitar “os principais monumentos, espaços verdes e museus”. “Sempre sem grande pressa, numa postura de contemplação”, Gabriel fugia à rotina do turista e “vivia no local”: “Em Sighișoara, na Roménia, chegou a acontecer passar nas ruas, conhecer as pessoas e cumprimentarem-me.”
Para o jornalista, as melhores fotografias são os “retratos”. Sempre que descia do comboio, tentava contactar com os habitantes e ouvir aquilo que tinham para dizer. Apesar de ter sido difícil interagir com a população nos países do Leste, Gabriel acabou por contactar com “várias personagens locais”, principalmente na “pequena cidade” de Veliko, na Bulgária. Tudo para “dar a conhecer as histórias dessas pessoas, histórias simples de encontros fugazes”.
Apesar de ter deixado o roteiro em casa, Gabriel tentou recriar parte do itinerário do famoso Expresso do Oriente — que já não existe no formato original. “É muito mais complicado de fazer. Hoje em dia, de Budapeste até Istambul temos que apanhar quatro comboios.” O jornalista fala mesmo de alguns dissabores, como das dificuldades ao entrar na Turquia, onde foi interrogado e tratado como um “emigrante ilegal”. “A passagem de fronteiras há quase cem anos era incrivelmente mais simples. A verdade é que estamos com países mais fechados”, lamenta.
Toda a aventura foi relatada no blogue Uma Foto Uma História, como outras que já realizou no passado. Contando com várias distinções, a página foi a vencedora da primeira edição portuguesa dos Open World Awards, em 2017.