O karma dita que para cada acção há uma consequência. Acontece que o Carmo’81 já deu tanta música que agora o Karma is a Fest se encarregou de retribuir. Em Viseu, entre 3 de Maio e 1 de Junho, o espaço cultural acolhe a primeira edição do festival dedicado à música local e nacional, dos mais variados estilos e géneros. A programação inclui não só concertos, mas também outros momentos, desde actuações de “avós do rock” a uma oficina de “estranhofonia”. Cada concerto tem um custo entre seis a oito euros, mas há várias actividades de entrada livre.
“A música é a valência que mais retorno nos traz, tanto mediático, como por parte do público e dos artistas. A consequência disso acaba por ser óbvia”, explica ao P3 Nuno Leocádio, director artístico e programador do Carmo’81. E está à vista no Karma, uma paronímia em consequência da programação habitual deste espaço cultural viseense, bastante focada nas actuações musicais.
Ao todo, são 14 os concertos que vão animar a cooperativa, à sexta-feira e ao sábado, durante sensivelmente um mês. O objectivo principal passa por criar um “motor difusor” da música que se faz em Viseu e no resto de Portugal. “Esforçámo-nos bastante por ter uma percentagem de grande produção local, que é o caso de José Pedro Pinto, que vai dar o primeiro concerto da sua vida, ou os Ohxalá, que são de Viseu”, exemplifica Nuno. A procura do eclectismo e a abertura aos mais variados públicos trazem ao espaço géneros diversos, como o rock dos The Dirty Coal Train (a 17 de Maio) e a electrónica futurista dos Gala Drop (no dia seguinte), por exemplo.
O festival também “não olha a idades”: “Por exemplo, os Pop Dell’ Arte têm mais anos de carreira do que eu de vida”, graceja Nuno. Contudo, quem leva ainda mais tempo de vida são certamente os avós d’A Voz do Rock. O projecto comunitário, promovido há mais de cinco anos pela associação Gira Sol Azul, é constituído por 60 octogenários “de vários lares e locais”. Para o festival, vão fazer uma “tour por três sítios” — Escola Emídio Navarro (dia 8), Internato Vítor Fontes (dia 15) e na Escola Básica de Paradinha (dia 22).
Nuno Leocádio destaca ainda a presença de Jorge Novo, fadista amador local e zelador na Igreja da Misericórdia, onde no ano passado a equipa do Carmo'81 realizou uma peça de teatro e o escutou pela primeira vez: “Nós não o conhecíamos enquanto cantor, até que um dia, enquanto fazíamos pausa nos ensaios, ele aproveitou e colocou um karaoke e começou a cantar um fado fantástico, que nos arrepiou a todos.” A “voz e alma” do homem de 59 anos motivou uma residência artística no Carmo'81, que está prestes a arrancar. Nela, haverá oportunidade para “criar originais”, escrever “letras e vários fados para a voz do Sr. Jorge”, que culminará com um concerto, a 31 de Maio, que será gravado e lançado em CD. “Queremo-nos esforçar para que daqui resulte um novo artista.”
No entanto, o festival não deixa de abordar as “várias linguagens artísticas”. Por isso mesmo, conta ainda com outros momentos, como a exibição de documentários, um debate — “Ouvimos Karma?” —, com ênfase na música em Portugal, e uma oficina de “estranhofonia”, onde os participantes terão a oportunidade de construir instrumentos e sons fora do comum. Todos os artistas são ainda convidados a captar o festival com câmaras Polaroid, registos que vão ser compilados num fanzine e apresentados numa exposição de fotografia, a organizar no final do festival.
Neste “ano zero”, Nuno Leocádio espera uma grande adesão do público: “Dado o interesse e o reconhecimento que estamos a receber, temos a certeza que todos os eventos irão estar esgotados.” Por um lado, lamenta a limitação do evento, confinado na sua maioria às paredes do Carmo’81, mas diz que as “vontades da equipa técnica, cidade e público estão todas alinhadas” para que o festival cresça nas próximas edições. “A intenção será para o próximo ano realizar num espaço outdoors, já seleccionado, num formato maior e em menos dias, com uma programação mais concentrada.”
Este ano, soube-se no mês passado, Viseu não vai poder contar com o festival Jardins Efémeros, “um grande evento” que aponta os holofotes à música, arte contemporânea e urbana nacional e internacional. O que significa esta ausência? “A cidade fica mais pobre em termos de programação cultural” e, por isso, “a responsabilidade de todos os outros agentes aumenta”, responde Nuno, não deixando de salientar, no entanto, que tanto o festival como o Carmo’81 possuem um alinhamento “distinto”.
Os bilhetes para os concertos já estão à venda e podem ser comprados online por seis euros ou por oito euros, em dia de concerto, na bilheteira. A oficina de “estranhofonia" tem um custo de inscrição de 20 euros; as restantes actividades são de entrada livre.