“Caxemira é a Palestina que o mundo esqueceu”

É a zona mais militarizada entre duas potências nucleares que se odeiam. 700 mil militares indianos patrulham a linha de controlo que divide Caxemira entre o Paquistão e a Índia. Que sítio é este tão disputado que pode levar dois países a um confronto nuclear?

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Soldado indiano vigia a fronteira com o Paquistão Reuters

Aos 76 anos, Amir Afzal tem um sonho que dura uma vida: visitar o túmulo do pai que morreu quando ele tinha apenas um ano e meio. Não se lembra do seu rosto mas, num dia claro, consegue avistar o sítio onde o pai está enterrado. O amigo Ghulam Mustafa tem a mesma idade. Tinha três anos quando o Império britânico acabou e nasceram a Índia e o Paquistão. O pai morreu na travessia, massacrado pelos indianos. Ele e o avô sobreviveram. Estamos na loja de móveis e colchões do filho de Mustafa em Mirpur, Azad Caxemira, no Paquistão. Ghulam Murtza, filho de Mustafa, não larga o telefone, quer chamar mais amigos para contarem as suas histórias. Eles chegam à mesma velocidade que o chá e os biscoitos são repostos. “Se me tivesse avisado com antecedência, já aqui estariam cem pessoas porque esta é a nossa história”, avisa Murtza sem largar o telemóvel. É raro um jornalista estrangeiro aparecer e a visita transforma-se rapidamente em notícia. Somos os primeiros a entrar em Azad Caxemira desde a escalada de ataques entre caças da Índia e do Paquistão, algumas semanas antes. Todos estão curiosos e ávidos por contar a sua história para o mundo, histórias de famílias separadas pela Linha de Controlo (LOC), que divide a Caxemira paquistanesa da indiana. Mirpur fica a 60 quilómetros da controversa linha.

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