Agricultura biológica é pior para o ambiente
O paradoxo é claro. A comédia dantesca. Estamos histéricos com as alterações climáticas e promovemos soluções que agravam o problema.
Há impostos que são incontornáveis. Outros são impostos sobre a ignorância. Um desses impostos é pago na aquisição de alimentos biológicos, habitualmente mais caros que os convencionais e sem qualquer vantagem para a saúde do consumidor ou para o ambiente. Pior... todas as vantagens enaltecidas pelos promotores da agricultura biológica são, na realidade, desvantagens quando comparados com a agricultura convencional.
Primeiro, é preciso compreender que a agricultura biológica é um conceito filosófico, desligado da ciência. Tal não fosse que descartam à partida, independentemente das vantagens ou desvantagens destas tecnologias, a utilização de pesticidas sintéticos, fertilizantes sintéticos, organismos geneticamente modificados e nanotecnologia. Ser sintético ou natural nada esclarece sobre as vantagens, desvantagens, eficácia ou segurança das ferramentas agrícolas a serem avaliadas. Logo, agricultura biológica é, por definição, um conceito fundamentalista e anti-científico.
Por outro lado, a agricultura convencional avalia todos os instrumentos ao dispor por forma a aumentar a eficiência e segurança da produção alimentar. E tem vindo a implementar várias formas de produção originárias da agricultura biológica, que demonstraram benefícios após serem devidamente estudadas. Utilizando um clichê velho e gasto, “têm mente aberta”.
Falemos sobre o ambiente…
Um dos mantras exaustivamente promovido pelo lobby biológico é que a agricultura biológica é melhor para o ambiente. No entanto, a realidade teima em não validar este argumento.
Em 2017 foi publicada a mais completa meta-análise até à data, que comparou o impacto ambiental da produção agrícola convencional com a produção biológica. Os autores compararam 742 sistemas agrícolas que produziam cerca de 90 alimentos diferentes – cereais, leguminosas e oleaginosas, frutas, legumes, laticínios, ovos e carne. Ou autores concluíram que, por um lado, a agricultura biológica requer mais 25 a 100% de terra para produzir a mesma quantidade de alimentos, tem um potencial de eutrofização 37% superior por unidade de alimento e tem um potencial de acidificação 13% superior. Pelo lado positivo, produz menos 4% de gases efeito estufa, gastando 15% menos energia.
Na globalidade, conclui-se que o impacto da agricultura biológica é muito mais negativo para o ambiente. Maior necessidade de terras significa maior destruição de ecossistemas e perda de biodiversidade e menor sequestração de dióxido de carbono. Maior eutrofização significa um aumento de número de zonas mortas aquáticas nas zonas costeiras. Maior potencial de acidificação significa maior dificuldade de absorção de nutrientes por parte das plantas, maior acidificação dos oceanos com impacto em algumas espécies como os corais, importantes para a biodiversidade marinha.
O leitor pode ter ficado com a ideia que, já que a agricultura biológica produz menos 4% de dióxido de carbono, então poderá ter um efeito positivo para o ambiente nesse sentido. Mas não. Um estudo sueco contabilizou o impacto ambiental da agricultura convencional versus agricultura biológica, quando a maior necessidade de terra da agricultura biológica é tida em conta. E como a agricultura biológica precisa de mais espaço, leva a mais desflorestação, então o impacto na libertação de CO2 é muito superior em comparação com a agricultura convencional. O mesmo aconteceu recentemente, com um estudo britânico demonstrando que, quando a utilização de mais terra é contabilizada, a agricultura biológica tem 21% mais impacto na libertação de CO2.
Concluímos que a ciência não apoia a agricultura biológica para mitigar os impactos ambientais antropogénicos. Mas, apesar de a ciência não apoiar a agricultura biológica, é este modelo que tem vindo a ser promovido como “sustentável” por toda a Europa. É este o modelo apoiado por praticamente todos os partidos da Assembleia da República. O paradoxo é claro. A comédia dantesca. Estamos histéricos com as alterações climáticas e promovemos soluções que agravam o problema.
A agricultura biológica, tal como as terapias alternativas na medicina, não se baseia no método científico. É uma filosofia naturalista. E tal como as terapias alternativas, depende do marketing para sobreviver. Ignora a ciência. E os seus promotores, quando confrontados com os factos, recorrem a teorias da conspiração acusando pessoas como eu de estarem a ser pagos pela “Big Ag”. É a reação típica da ignorância.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico