Leitura em tempos de pandemia
Resolver problemas através da leitura é a proposta da biblioterapia. Nesta segunda semana de isolamento, Sandra Barão Nobre dá duas sugestões para ler em casa.
Esta semana, dois dos livros que recomendo com mais frequência, indicados para potenciar o nosso equilíbrio emocional e mental e para promover valores como a empatia, a compaixão, a coragem, a determinação, a perseverança e a resiliência.
A Árvore da Vida, de Pedro Strecht, Manufactura
Neste seu breve ensaio (apenas 81 páginas) acessível a qualquer leitor, Pedro Strecht evidencia que animais e plantas partilham 70% do ADN e espelha o corpo e a psique dos seres humanos nas árvores: ambos crescem de forma vertical, precisam de raízes (referências sociais, culturais, etc.) e de um tronco (por exemplo, valores orientadores). O estado de degradação a que chegaram as florestas, e, por extensão, a natureza em todo o planeta, é um reflexo, argumenta o autor, dos maus tratos infligidos à árvore que existe em cada ser humano, que se encontra desenraizado, solitário, distraído com o supérfluo e o superficial e que descuida a limpeza do seu jardim interior, isto é, a sua saúde mental.
A comunidade científica tem vindo a defender que a destruição dos habitats naturais — a par do aumento da população mundial e da rapidez com que esta se desloca e ocupa áreas intocadas —, permitiu que doenças que antes atingiam apenas animais chegassem aos seres humanos. Pensa-se que será o caso da covid-19.
Num momento em que nos é pedido recolhimento para travar a pandemia, o ensaio de Pedro Strecht permite-nos preparar um futuro muito próximo, quando pudermos de novo desfrutar do ar livre sem restrições, dando a essa experiência de contacto com a natureza um valor renovado e, no mínimo, redobrado. Amar e cuidar das árvores e de toda a natureza é cuidar de si e, num exercício de solidariedade, cuidar dos outros também. É alcançar uma forma de solidez e de rectidão que contribui para o equilíbrio de cada um e de toda a sociedade.
É Isto que Eu Faço, de Lynsey Addario, Marcador
Lynsey Addario nasceu em 1973, nos EUA, e é a mais nova de quatro irmãs. Começou a fotografar aos 13 anos, quando o pai lhe ofereceu a sua primeira máquina fotográfica. Conseguiu o seu primeiro trabalho como fotojornalista freelance em Buenos Aires, na Argentina, em 1996 começou a trabalhar para a Associated Press, em Nova Iorque, e em 2000 mudou-se para a Índia para fazer a cobertura fotojornalística do Sul da Ásia. Fotografa na Índia, no Paquistão, no Afeganistão e no Nepal, dando especial atenção aos direitos humanos e às questões das mulheres. Após o 11 de Setembro, voltou ao Médio Oriente para testemunhar as consequências da guerra. A partir daí — no Paquistão, no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, no Darfur, na República Democrática do Congo, na Somália — afirma-se como uma das maiores fotojornalistas do nosso tempo.
A história de vida de Lynsey Addario é excepcional, a sua carreira brilhante e o seu exemplo de abnegação, determinação e coragem, verdadeiramente inspirador. As suas memórias, ao mesmo tempo que denunciam desigualdades e injustiças revoltantes sofridas noutras latitudes, ajudam a colocar em perspectiva os nossos privilégios, a tomar consciência deles e a persistir a partir dessa vantagem.
Espero que possam ir beber força a estas páginas, ao mesmo tempo que aprimoram a vossa capacidade empática e de compaixão, aliados imprescindíveis no combate à covid-19 e a outros flagelos.