Jardins de infância: regresso ao futuro

É necessário estarmos preparados para um mundo em transformação, cada vez mais imprevisto. Por isso, faz todo o sentido tirar o melhor partido do digital e do presencial, numa conjugação sensata e eficaz.

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Na Escola do Futuro trabalhar-se-á mais por temas e não por conteúdos Adriano Miranda

Hoje, dia 1 de junho de 2020, é o Dia Mundial da Criança.

Mas, tão ou mais importante do que isso, hoje regressam aos Jardins de Infância as crianças e os Educadores de Infância, após um largo e indispensável período de confinamento. Hoje, retoma-se a ideia chave de currículo — este desenvolve-se com e em articulação plena das aprendizagens.

Mas também de “Escola” — nos jardins de infância, os espaços são geridos de forma flexível, as crianças são chamadas a participar ativamente na planificação das suas aprendizagens, o método de projeto e outras metodologias ativas são usados rotineiramente, potencia-se o aproveitamento do dia-a-dia das crianças para integração plena nas aprendizagens, pode-se circular no espaço de aprendizagem livremente.

Hoje regressa a diversificação de instrumentos de avaliação, a possibilidade de avaliar progresso por observação e de se progredir e avaliar sem recurso à retenção.

Hoje é dia de aprendizagem. Mas também de inspiração. É a partir deste contexto, do nível educativo da educação pré-escolar, do dia de hoje que podemos ver a Escola pós-covid-19.

Permitam-me a analogia. Que se deseja compreensiva. Hoje, com o regresso à “Escola” (leia-se, às salas dos Jardins de Infância), regressa-se ao futuro.

À escola do futuro.

Vejamos de seguida quais são as minhas ideias-chave que sustentam tal analogia e que desejo que sejam tópicos para reflexão pelo nosso sistema educativo e por todos nós, enquanto intervenientes e participantes no mesmo:

  1. É necessário estarmos preparados para um mundo em transformação, cada vez mais imprevisto. Por isso, faz todo o sentido tirar o melhor partido do digital e do presencial, numa conjugação sensata e eficaz.
  2. É provável que doravante e cada vez mais o trabalho mais deslocalizado e em rede(s) se propague.
  3. A proximidade não será substituída pela dimensão online. Não haverá nenhum modelo de ensino que substitua o ensino presencial na configuração que conhecemos.
  4. Qualquer reconfiguração do sistema educativo passará sempre por manter um espaço de proximidade entre alunos e professores. Não se poderá nunca afastar espacialmente os professores dos alunos.
  5. A “máquina”, a tecnologia será (bem) importante mas, a (inter)relação será muito, muito mais importante.
  6. A Escola do Futuro romperá cada vez mais com as paredes da sala de aula, alargará o seu espaço. Sairá para fora da Escola, da sala de aula. Chegará ao que a rodeia. Ao Mundo. À emergência das situações-problema do quotidiano e da sociedade.
  7. A Escola do Futuro promoverá uma Educação mais comunitária, colaborativa, dinâmica e muito mais aberta à dimensão social, nacional, europeia, mundial.
  8. Na Escola do Futuro, as emoções não serão nunca dispensáveis. Nem a socialização.
  9. Na Escola do Futuro, haverá mais reconhecimento, confiança e compromisso entre todos os parceiros (Escola, Professores, Alunos, Famílias, Sociedade, …), onde todos e cada um terão um sentimento de pertença vinculante e efetivo.
  10. A Escola do Futuro será cada vez mais um lugar e um tempo de desafios. E, de procura de oportunidades.
  11. Na Escola do Futuro trabalhar-se-á por temas, desafios, problemas, oportunidades transdisciplinares. Não por conteúdos.
  12. Na Escola do Futuro, o professor reinventar-se-á, reencontrará a sua vocação, tornar-se-á “estudante do seu próprio ensino”, investirá na (re)construção do currículo. O professor vai fazer acontecer, tornar interessante, motivar e estimular a autonomia dos alunos. O professor será (o) desafiador de aprendizagens.
  13. Na Escola do Futuro, trabalhar-se-á em rede(s), mais em equipa(s). Teremos redes de colaboração, de proximidade, de trabalho comum, complementar. De todos. Com todos. De todas e com todas as ciências (neurociências, psicologia, biologia, sociologia, …). Uma rede de “redes” multidisciplinares. Em convergência. Plena de sinergias.
  14. Na Escola do Futuro, o foco será nas competências digitais, relacionais, sociais, emocionais, no despertar de todos os talentos em cada um e em todos os alunos.
  15. Na Escola do Futuro, o número de alunos por turma terá de ser menor.
  16. Na Escola do Futuro, os horários serão muito mais flexíveis. Dos alunos e dos professores.
  17. Na Escola do Futuro, o aluno tenderá cada vez mais a desenvolver a sua autonomia.
  18. Na Escola do Futuro, os alunos vão construir cada vez mais os saberes pela ação, pela descoberta, pela compreensão do conhecimento através das suas conquistas e da sua significância, caráter utilitário, emergência e urgência. Terão mais pensamento crítico, mais opinião própria, maior consciencialização.
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