A covid-19 apenas veio acelerar e revelar mais facilmente um problema que todos nós ignorávamos, o elefante na sala que nos atormenta mas que temos medo de verbalizar: a ansiedade.
Em 2018 comecei a ter os primeiros sintomas: aperto no peito, pensamentos díspares, falta de apetite e muito cansaço. Ao início decidi ignorar e continuar toda a minha vida normalmente. Um ano depois repete-se a dose, mas desta vez a dobrar. Aqui decidi pedir ajuda. Entender o que era, como se chamava e se podíamos ser amigos.
Em 2019 continua e apercebo-me que evoluiu para burnout – nada bonito de se ter. Medicação, muitas consultas de psicologia e meditação. Parecia tudo controlado até chegar um vírus desconhecido e eu ter fraquejado. Estaca zero e processo todo de novo. Não é fácil, mas ajuda se entendermos o que temos.
Decidi começar a verbalizar, dar-lhe um nome e entender o que significava: distúrbio de ansiedade. Nunca ninguém disse que era fácil e uma coisa que aprendemos é que vamos viver com isto para sempre; apenas aprendemos a controlar e a usar ferramentas para o ultrapassar.
Não sejamos inocentes e ingénuos. Encarar a problemática é meio caminho para lidar com ela. Perceber os tremores e não achar que são fraqueza é importante. Mudar o mindset sempre que os pensamentos negativos aparecem é importante. Rodearmo-nos de pessoas que nos fazem bem – cliché, mas é verdade – é importante. Pensar que tem solução é importante e, acreditem, é tudo uma questão de perspectiva.
Assim, deixo algumas dicas que podem ajudar:
- Estar atento aos sinais. Perda de apetite, cansaço, desmotivação, tremores, apertos no peito e pensamentos menos positivos não são normais.
- Procurar ajuda. Admitir que estamos com um problema não é sinal de fraqueza, mas sim de força, e ir a um psicólogo, especialista em reiki ou qualquer medicina alternativa é um grande passo e uma possível ajuda.
- Se o stress se deve ao trabalho, elaborar um plano mensal pode ajudar. Apontar num calendário tudo o que temos para fazer e não preencher em demasia nem a parte da manhã nem a de tarde — há sempre um peso e uma medida.
- Meditar. Arranjar um tempo para nós é essencial e meditar ajudou-me imenso. Para além de relaxar o corpo, relaxa a mente e, no meu caso, alivia toda a sensação de aperto na garganta.
- Encontrar uma imagem de paz e usá-la para nos transportar sempre que nos sentimos ansiosos.
- Criar rotinas. Uma das coisas que mais me ajudou a sair do “buraco” foi ter uma rotina com horários para tudo – trabalhar, comer, meditar, ler, entre outras actividades.
- Encontrar hobbies. É essencial que ocupemos a nossa mente com alguma coisa que não seja ansiedade, mas tudo tem o seu tempo e abusar da nossa força pode piorar a situação.
- Utilizar programação neuro-linguística para enfrentar e ultrapassar todos os pensamentos negativos que nos invadem. Por cada “não consigo”, “não vais ficar bem”, temos de reprogramar o pensamento e dizer “vou conseguir”, “vou ficar bem” e “vai levar o seu tempo, mas vou dar o meu melhor para ser a melhor versão de mim”. A nossa mente pode ser muito traiçoeira, mas a força está toda nela. Se a cabeça estiver bem, tudo o resto eventualmente fica bem.
Estas são apenas algumas dicas/ferramentas que podem ser úteis, mas cada caso é um caso e pedir ajuda é fundamental. O mais importante é conhecermos o nosso corpo e a nós próprios e esse é um processo moroso, mas muito enriquecedor porque, quando a tempestade passar, certamente vem a bonança.
Sabem aquela ideia do copo meio cheio, meio vazio? É exactamente igual. Olhamos para a ansiedade com o mesmo medo que uma criança tem de um palhaço. Faz-nos rir, mas também chorar. Olhamos para ela e pode estar meio cheia, ou meio vazia. Podemos estar a enfrentá-la ou deixar que nos absorva por completo. Podemos querer dar o golpe final e arrumá-la para canto ou deixar que cresça a cada dia.
A ansiedade é um sentimento frenético muito difícil de controlar. Invade sem pedir licença e fica, eternamente. Mas, quem sabe... Podemos ser amigos?