Um sinal de resistência?

Pedimos ao PCP responsabilidade; pedimos que acarrete com rigor as recomendações das autoridades de saúde e não que afirme peremptoriamente que determinadas normas não serão cumpridas.

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LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Mudam-se os tempos, as vontades permanecem iguais, contra-senso que denunciamos sem qualquer motivação política, porque o problema ultrapassa ideologias destrutivas com ampla difusão social. O tema é a Festa do Avante!, um evento político, cultural, desportivo e musical, mas muito mais que a soma das suas partes, diz o PCP. Com o intuito de assinalar o regresso da actividade política do Partido Comunista, a Festa do Avante! é uma tradição em Portugal, cerimónia pública na qual os seus militantes prestam homenagem ao líder do partido e aos seus mais famosos representantes internacionais, incluindo ditadores do passado.

Porém, a reflexão que fazemos não é uma oposição absoluta à realização de eventos políticos: apoiamos totalmente a pluralidade política com o objectivo de limitar a actuação nefasta de qualquer grupo ideológico. Aquilo a que nos opomos é à sua realização no presente ano, marcado por uma atipicidade quase inefável por uma pandemia que alterou a nossa forma de estar no mundo. É insultuoso que se realize um evento que coloca em risco a saúde não apenas de quem participa na festa (um mal menor, tratando-se de uma consequência de uma decisão pessoal), mas de todos os habitantes do território nacional, posto que existirão grandes fluxos para participar na chamada “Festa do Povo”. Obrigará o PCP a que os participantes cumpram um período de isolamento? Haverá testes de covid-19 e será barrada a entrada a quem apresentar sintomas? Temos dúvidas que assim seja.

Assim, pedimos ao PCP responsabilidade; pedimos que acarrete com rigor as recomendações das autoridades de saúde e não que afirme peremptoriamente que determinadas normas não serão cumpridas; pedimos que não se acuse a DGS de fazer de tudo para que a Festa do Avante! não se realize, quando outros fazem tudo para que esta seja uma realidade. E outras acusações e galhardetes são trocadas entre o PCP e a DGS, entrando-se num jogo de pingue-pongue que ninguém quer ganhar: limitam-se a jogar para não perder, sem notar que o campo está inclinado para o lado do povo. Chegámos ao ridículo de nem o PCP nem a DGS terem querido divulgar as recomendações: a DGS afirmou que a sua divulgação cabe do PCP, que, por algum motivo, rejeitou que estas fossem tornadas públicas. Não é muito difícil compreender a razão deste temor do PCP: se ninguém conhecer as regras, ninguém pode denunciar o seu incumprimento.

Mas o mais triste e revoltante, à parte da insistência cega do Partido Comunista, é o apoio do Governo e do Presidente da República, afirmando que gostariam de ter tido conhecimento das recomendações da DGS mais cedo. Ora, se conheceram as recomendações, porque não as deram a conhecer ao povo? O Governo e o PS não o fizeram porque necessitam do apoio do PCP como de pão para a boca: temem que, sem cedências e tratamentos preferenciais e injustos, se revelem os disparates que têm sido feitos e pretendem continuar a fazer. E o Presidente da República necessita do apoio do PS para a futura reeleição. De qualquer forma, ambos pretendem agarrar-se ao poder com a ajuda do PCP porque, sozinhos, faltam-lhes as forças para segurar ao poleiro que não pretendem largar.

Isto apenas contribui para o aumento da sobranceria do PCP, que numa (i)lógica de “contra tudo e contra todos” insistem na realização da Festa do Avante! em plena pandemia. Esta casmurrice é reveladora do profundo desdém que o PCP nutre pelos portugueses; é comprovativa da baixeza moral que tem pautado a existência do comunismo no mundo. E ainda afirmam que a realização da Festa do Avante! é uma necessidade dos portugueses porque é um sinal de resistência! Contra quem? A Festa do Avante! não é um sinal de resistência, mas um desprezo pela prudência que estes tempos de nós demandam.

Digam a verdade! Porque insistem em realizar a Festa do Avante! num momento absolutamente perigoso? Bem sabemos que abominam o capital quando está nas mãos de outros, mas afirmam que não é necessário o dinheiro da Festa do Avante! para o financiamento do partido, que podem sobreviver um ano sem estes lucros. Provem-no! Utilizem os lucros milionários da Festa do Avante! para permitir que o SNS sobreviva ao número crescente de casos a que assistimos e que ignoram por uma festa que, nos dias que vivemos, não tem sentido nem legitimidade que a justifique.

A Festa do Avante! é uma provocação desnecessária de quem se julga “dono disto tudo” e pretende demonstrar a sua força. A força mostra-se nas urnas, não em festas que se realizam em tempos pandémicos e que em nada enobrecem o esforço de milhares de trabalhadores, ignorando todos os conselhos que visam o bem de Portugal. Dito isto, apenas acrescentamos: “Avante, camaradas, avante”. Avancem rumo à desgraça e descrença. Pagarão a vossa imbecilidade nas urnas, se os eleitores não tiverem memória curta.

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