“Juntos pelo Desporto”
A 24 de Abril passado, estava Portugal a terminar o primeiro mês de confinamento, algo que as últimas gerações de portugueses não faziam sequer ideia do que poderia ser, mas que começava a condicionar o nosso dia a dia, quando a Confederação do Desporto de Portugal (CDP) convocou os presidentes das federações desportivas para uma reunião (via vídeo conferência – nessa altura, uma quase inovação) para debater o momento difícil que o desporto começava a atravessar. Estava, então, completamente fora das nossas piores previsões que, praticamente um ano mais tarde, nos encontraríamos numa situação semelhante quanto à mobilidade, mas muito pior quanto à capacidade/possibilidade de sobrevivência do tecido desportivo nacional.
Naquela tarde de 24 de Abril mais de 70% dos presidentes das federações desportivas disseram presente e aprovaram, quase por unanimidade, as diferentes propostas que seriam dias depois compiladas num documento global denominado: “Recuperação do Desporto – Um Desígnio Nacional”. Este continha as conclusões do plenário dos presidentes das federações divididas em três grandes vertentes: financiamento, tributação e emprego e voluntariado. O documento foi em devido tempo apresentado ao Governo e à Administração Pública Desportiva, até porque algumas das propostas, com carácter fiscal, poderiam/deveriam ser incluídas na proposta de Orçamento de Estado de 2021, cuja elaboração se iniciava.
O mesmo aconteceu três meses mais tarde quando, agora numa luta a três, com o Comité Olímpico de Portugal (COP) e o Comité Paralímpico de Portugal (CPP), reunimos presencialmente as federações desportivas na primeira Cimeira do Desporto. Uma vez mais foram apresentadas um conjunto de propostas que, após tanto trabalho desenvolvido, por tanta gente, no seio do movimento associativo desportivo, pretendiam salvar o desporto nacional.
Queríamos evitar uma queda abrupta num patamar de onde dificilmente ele recuperará nos próximos anos. Sabemos de todos os prejuízos que isso terá no desenvolvimento de gerações de jovens, na saúde em geral, e até na economia, dado que o PIB relacionado com o desporto representa 2,12% do total dos países da União Europeia (EU) e o emprego relacionado com o desporto atinge 2,72% do total do emprego na UE.
O Orçamento Geral do Estado para 2021 foi uma verdadeira decepção e a discussão na especialidade, na qual alguns partidos, compreendendo o momento difícil que o desporto atravessa, foram portadores das nossas ideias fundamentais para a sua sobrevivência. Contudo, essas propostas tiveram sempre uma maioria negativa.
Temos todos consciência que estamos a viver um período particularmente complicado da nossa sociedade. Sem dúvida o mais difícil que a humanidade, globalmente, enfrenta desde o último conflito mundial, terminado há três quartos de século. Então, a muito menor especialização do ponto de vista técnico dos praticantes desportivos permitiu um regresso rápido a níveis competitivos pré-conflito. Hoje, estamos perante uma realidade completamente diferente. As etapas na formação e na preparação, que estão agora a ser negadas terão potencialmente efeitos muito mais nefastos no desenvolvimento das carreiras desportivas dos eventuais praticantes. É tudo isto que neste momento nos preocupa e nos faz voltar a encontrar a generalidade do movimento associativo desportivo, afinal aquele que projecta, com as suas vitórias, a auto-estima dos portugueses.
Transcorrido quase meio ano, desde a primeira Cimeira do Desporto, sem que tenha sido possível encontrar respostas que tenham permitido criar um ambiente propício a evitar um colapso quase generalizado das diversas modalidades desportivas, decidiram a CDP, o COP e o CPP voltar a convidar as federações desportivas para uma nova Cimeira.
São seis os temas fulcrais que irão estar em debate: A retoma das actividades do desporto federado em segurança; sustentabilidade do modelo desportivo e valorização social do desporto; turismo desportivo; sistema fiscal; impacto económico e financeiro do sector e, finalmente, mobilização desportiva.
Se excluirmos o primeiro dos temas, cuja resolução é, hoje, pelo período que atravessamos, crucial para não deixar desaparecer grande parte do tecido desportivo do país, a resolução dos restantes tem feito, por diversas ocasiões, parte do conjunto de propostas há muito levantadas, o qual, apesar da sua importância para o desenvolvimento desportivo do país, não tem encontrado eco, sobretudo aqueles que interagem com o Ministério das Finanças.
O último tema, mobilização desportiva reflecte precisamente esta ideia de força e que o desporto na sua génese encerra. Propomos promover uma campanha nacional de sensibilização junto dos meios de comunicação social envolvendo atletas, clubes, treinadores e demais entidades para as dificuldades que o desporto atravessa, sob o lema “Juntos pelo Desporto”