Netflix vai à frente na contratação de realizadoras, mas tem poucos papéis para latinos e asiáticos
A representatividade da população negra no catálogo do serviço de streaming também aumentou no período compreendido entre 2018 e 2019, concluiu um estudo encomendado à Universidade da Califórnia do Sul.
A Netflix ultrapassou a concorrência no que diz respeito à contratação de mulheres para realizar filmes sob a sua chancela, mas continua a ter poucos actores latino-americanos e asiáticos em papéis principais, de acordo com um estudo encomendado por esta plataforma de streaming e agora divulgado.
A indústria de Hollywood tem sido criticada nos últimos anos devido à falta de diversidade à frente e atrás das câmaras. A Netflix, o serviço de streaming dominante no mercado, pediu por isso a investigadores da Universidade da Califórnia do Sul para avaliarem a prevalência de vários grupos populacionais entre os intérpretes da sua oferta de programação em língua inglesa e entre os criadores que trabalham nos bastidores.
“O relatório torna claro que, embora a Netflix tenha avançado na representatividade ano após ano, ainda há um longo caminho a percorrer”, diz o co-presidente executivo da empresa, Ted Sarandos.
Os investigadores da Annenberg Inclusion Initiative, unidade da Universidade da Califórnia do Sul liderada pela professora Stacy L. Smith, avaliaram 126 filmes e 180 programas de televisão que se estrearam na Netflix entre 2018 e 2019. Concluíram que o serviço tem uma percentagem de produtoras, argumentistas e realizadoras de cinema superior à das outras distribuidoras concorrentes. No período abrangido pelo estudo, 23% dos filmes da Netflix foram realizados por mulheres, uma proporção que mais do que triplica o rácio de mulheres realizadoras quando considerados os filmes mais rentáveis desses dois anos (7,6%). E 6,2% do catálogo de filmes estreado nesse período foram realizados por mulheres não-brancas, que representam apenas 2,2% quando considerado todo o universo dos blockbusters lançados entre 2018 e 2019.
O estudo não comparou porém o catálogo de filmes da plataforma com o universo total de filmes estreados em 2018 e 2019 pelos grandes estúdios, nem com os filmes lançados por outros serviços de streaming.
"Às mulheres, as chaves do reino"
A maior percentagem de mulheres atrás das câmaras terá conduzido a mais mulheres e meninas no ecrã, explicou Stacy L. Smith numa sessão online de apresentação das conclusões. Os principais papéis em filmes e programas de televisão da Netflix foram repartidos equitativamente entre actores de ambos os sexos, diz o estudo. “A inclusão de facto acontece quando se dá às mulheres as chaves do reino e elas podem conduzir as histórias”, sublinhou Smith.
A percentagem de actores negros em papéis principais excedeu, no mesmo período, a percentagem de negros na população norte-americana. Mas já os latino-americanos apenas concentraram 4% dos papéis principais em filmes e 1,7% em séries televisivas, ficando assim muito abaixo do seu peso demográfico nos Estados Unidos, onde representam 12% da população. O mesmo aconteceu com os actores asiáticos, aos quais couberam apenas 1,7% dos protagonistas de séries Netflix; a população asiática representa 7% do país.
O relatório concluiu ainda que as aparições de pessoas LGBTQ e de personagens portadoras de deficiência foram raras.
Mas 19 dos 22 parâmetros examinados pelos investigadores registaram melhorias entre 2018 e 2019.
Determinada a melhorar o seu desempenho nesta matéria, a Netflix anunciou um fundo de cem milhões de dólares para ajudar a formar pessoas de comunidades sub-representadas e prometeu divulgar dados actualizados de dois em dois anos, até 2026.
“A ideia desta iniciativa é continuar a prestar contas”, disse Scott Stuber, o vice-presidente da Netflix para a área do cinema global.