O Comandante Supremo caiu do cavalo?
Os EUA saíram-se muito mal como já tinha acontecido no Vietname. Ora um Comandante Supremo não pode escudar-se nos seus assessores e órgãos de conselho.
Não é por acaso que nas democracias sólidas o chefe de Estado é também o Comandante Supremo das Forças Armadas com uma responsabilidade pessoal e intransmissível.
Joe Biden foi a grande esperança do regresso dos EUA a uma normalidade, tanto interna como externa, depois dos anos completamente atípicos de Trump, ignorante, básico, instável e com tendências de ditador. Embora com as dificuldades inerentes a tão rara situação, Biden tinha vindo a fazer um bom trabalho corrigindo muitas das decisões do seu antecessor procurando recriar uns EUA estáveis e previsíveis, mas não no caso da retirada do Afeganistão, elemento essencial da campanha eleitoral de Trump, tanto em 2016, como em 2020.
Porquê? Questões de política interna terão sido a razão, mas com fortes implicações na política externa num quadro geopolítico muito sensível e instável. A querer manter a mesma decisão, tal obrigaria a um planeamento, faseamento e execução muito cuidadosos o que não ocorreu e o desastre aconteceu. Quase de repente os taliban emergiram em força e foram controlando rapidamente o país chegando a Cabul em poucos dias; as Forças Armadas nacionais desapareceram e o Presidente abandonou o país.
Os EUA saíram-se muito mal como já tinha acontecido no Vietname. Ora um Comandante Supremo não pode escudar-se nos seus assessores e órgãos de conselho; eles são só isso, conselho, trabalho e execução, a responsabilidade continua a ser unipessoal. Tem, por um lado, a responsabilidade de ser o país mais poderoso do mundo e, como Comandante Supremo, tem também de responder perante o pessoal das suas Forças Armadas que nele se têm de rever, acreditar e ter orgulho.
Perante o mundo, demonstrou que os EUA não são um aliado confiável, perante as suas Forças Armadas mostrou que podem deixar de o respeitar, como já acontecera com Trump: ora, um chefe de Estado e Comandante Supremo nunca pode deixar que tal aconteça. Pode ser dito que esta situação não abala as Forças Armadas; claro que abala e muito, já que tudo fizeram para conseguir uma solução estável e depois foram envolvidas num processo de fuga! As Forças Armadas continuarão a cumprir as suas missões, mas sem a confiança pessoal no seu Comandante Supremo que pode reforçar (ou não) as suas capacidades.
É claro que este ambiente de mal-estar pode e vai ser certamente corrigido, mas é indispensável que as próximas decisões sejam cuidadosas e correctas. O país e as suas Forças Armadas não podem ser humilhados e mesmo menorizados. As Forças Armadas podem estar caladas, tudo cumprir e tudo perdoar, menos a humilhação, principalmente se for reiterada.
O Comandante Supremo não pode cair do seu cavalo de poder e da confiança que deve transmitir. É assim em todo o mundo democrático e com exemplos históricos.