Movimento anti-LGBT: uma narrativa forçada

A teoria que julga as pessoas gays, lésbicas, bissexuais e trans como sendo contra-natura não é nova, mas, tal como outras noções da História, já foi refutada. É normal a sexualidade humana ter diferentes variações e isso não significa que sejam provocadas por traumas infantis ou abusos familiares.

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“Pray Away” DR/ Netflix

O documentário Pray Away, tendência actual na Netflix, expõe o movimento anti-LGBT norte-americano através de uma série de testemunhos emotivos.

Impulsionado pelo Cristianismo fundamentalista e pela extrema-direita, a partir dos anos 70, este movimento conservador pressupõe que todas as orientações sexuais, identidades de género e expressões de género que se desviam da heteronormatividade e da cis-normatividade estão associadas a comportamentos socialmente disfuncionais e patológicos, como a pedofilia, a toxicodependência ou o alcoolismo. Assumem, por isso, que a comunidade LGBT é um atentado às normas e às instituições sociais mais tradicionais, como a família nuclear e o casamento entre pessoas de sexos diferentes.

A teoria que julga as pessoas gays, lésbicas, bissexuais e trans como sendo contra-natura não é nova, mas, tal como outras noções da História, já foi refutada. Em nome de Jesus Cristo, acredita-se que a Igreja e os ensinamentos bíblicos são capazes de estruturar alívio, amor e disciplina nas nossas vidas. Mas onde fica a verdadeira liberdade para que crentes e não-crentes abracem os seus próprios sentimentos?

Apesar dos avanços registados, nas últimas décadas, no campo médico, legislativo e cultural, os direitos das pessoas LGBT continuam sem receber o devido cuidado e respeito. Em vários pontos do globo, inclusive em Portugal, mantém-se a crença que as terapias de conversão são eficazes na cura de pessoas homossexuais, bissexuais e trans sem que exista uma lei que proíba tais procedimentos. Num estudo realizado pela ILGA Portugal, em 2014, uma minoria de profissionais que actuam na área da saúde mental sugeriu aos utentes que a homossexualidade é um distúrbio curável. Outro relatório divulgado pela organização Southern Poverty Law Center, em 2016, mostrou que, nos EUA, um em cada três jovens LGBT já tinha sido submetido a algum tipo de terapia de conversão, sendo esta imposição também colocada pelos próprios progenitores que acreditam estar a fazer o melhor para os seus filhos.

Estas práticas nefastas são antiéticas, contraproducentes e totalmente prejudiciais à saúde, desencadeando comportamentos autodestrutivos e constrangimentos ao bem-estar físico e mental, tais como altos níveis de ansiedade, depressão, ataques de pânico, solidão e, em casos mais extremos, o próprio suicídio. Em consequência, os três “is” da discriminação perpetuam-se: o insulto, a invisibilidade e o isolamento. Daqui geram-se sentimentos de culpa e vergonha, envolvendo episódios humilhantes e violentos para as vítimas e sobreviventes, cujo único pecado se resume ao facto de não se identificarem com o género que lhes foi atribuído à nascença, ou desejarem amar e serem amadas por alguém do mesmo sexo. Esta estigmatização, à qual somos habituados pela sociedade que esconde no armário as diferentes orientações sexuais, identidades de género e expressões de género, é uma forma de opressão e exclusão social que condiciona o acesso a determinadas esferas da vida que as pessoas cis e heterossexuais tomam por garantidas.

É normal a sexualidade humana ter diferentes variações e isso não significa que sejam provocadas por traumas infantis ou abusos familiares. A representatividade positiva de pessoas LGBT deve ser, por isso, um ponto fundamental na agenda política e a denúncia de situações que atentam contra a saúde, a liberdade e os direitos desta comunidade não pode deixar de ser encorajada.

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