Cimeira das Pessoas: uma alternativa para a política climática

A Cimeira das Pessoas demonstrou que há força no caminho que queremos percorrer, juntas, numa luta que levaremos até ao fim — e que planeamos ganhar. Aqui fica um resumo.

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Reuters/JAVIER BARBANCHO

Ao mesmo tempo que decorre a 26.ª COP, marcada pela frustração política com a insuficiência das metas e dos instrumentos propostos para a resolução da crise climática, ocorreu a Cimeira dos Povos, de 7 a 10 de Novembro, em Glasgow. Reuniu diversos grupos e movimentos sociais a nível internacional, que aprenderam, discutiram e definiram estratégias para a luta climática. Em Glasgow fervilhou um mar de possibilidades, em que a força é a pluralidade de visões para ganhar consensos sociais cada vez mais fortes, unindo vários sectores da sociedade.

O conjunto de testemunhos, em particular das comunidades da linha da frente da crise climática, tem deixado evidente a urgência de mudar o sistema de exploração, em prol de soluções que defendem os defensores da Humanidade.

Pude estar presente nalguns dos debates sendo que achei importante registar:

Desafiando a pegada ecológica militar

Neste painel, vários intervenientes estabeleceram a relação entre a crise climática e a pegada ecológica provocada pela militarização. Foram abordados os perigos da guerra nuclear e o catastrófico cenário que pode ser chamado “Inverno Nuclear”. Um orador da Papua Nova Guiné contou a sua experiência na primeira pessoa no exército e a importância de compreender a violência imposta sobre territórios e comunidades através de uma lente que compreende as raízes históricas capitalistas e coloniais. Foi exposta a conjuntura política que, desde os protocolos de Quioto, permitem que a poluição militar não seja contabilizada como um ponto de debate na definição de política internacional climática.

Civilização pós-fóssil

Neste painel falou-se sobre a necessidade de criar um espaço paralelo onde as comunidades mais afectadas pela crise climática vêem as suas histórias a serem contadas e onde são escutadas as suas propostas de resolução para a crise climática. Falou-se sobre o facto de o poder social construído colectivamente ser a única forma de fazer face a uma aparente inevitabilidade de poder das grandes potências empresas poluentes.

Sustentabilidade holística para as artes do espectáculo

Neste momento foi apresentado um projecto que funciona como uma rede para projectos artísticos comprometidos com justiça climática e com a implementação da sustentabilidade nas suas práticas nas artes performativas. Foram apresentados vários princípios entre os quais bem-estar, transformação, criatividade e inclusividade que funcionam como mote para as pessoas que aderem à iniciativa e que orientam a criação para a transformação social.

Da crise à justiça: como ganhar com um Green New Deal

Neste painel foram abordadas várias questões sobre a necessidade de um espaço mais radical e reivindicativo para a resolução da crise climática que a saiba ler, não só como uma questão do meio ambiente e de conservação, mas de disrupção da lógica sistémica que rege as nossas vidas, abordando a necessidade de aproveitar as coligações internacionais para subverter a lógica de produção e acumulação de capital nas sociedades contemporâneas. Os oradores fizeram intervenções brilhantes, tendo, por exemplo, Vijay dito que os revolucionários saíram eliminados do mapa de intervenção política por ameaçarem o sistema no qual actuavam. O mesmo também referiu que uma vez, numa conversa com um interveniente político, lhe foi dito que “tinha razão, mas ninguém queria saber” e que, portanto, a tarefa do movimento social é fazer com que se torne importante e incontornável os assuntos e causas que levantamos.

Esta conferência serviu como um farol de esperança para as activistas que puderam estar presentes, demonstrando que há força no movimento e caminhos que queremos percorrer, juntas, numa luta que levaremos até ao fim — e que planeamos ganhar.

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