Neste Natal reequacione o seu conceito de família

O que representa o Natal numa cultura marcadamente judaico-cristã? Arriscaria dizer que a grandeza da dispersão do seu significado é proporcional ao número de corações que batem e de almas que respiram.

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"Portugal tem esta taxa de vacinação porque trabalha para isso há anos!" @daniel rocha

O Natal começa cada vez mais cedo! Basta tropeçar num centro comercial ou deambular online para perceber que no final de Outubro ele se instala, devagarinho, exibindo em sortido fino, montras mais ou menos digitais. O Natal comercial chega assim, desafinado, até mesmo antes do calendário do Advento a 1 de Dezembro!

O que representa o Natal numa cultura marcadamente judaico-cristã? Arriscaria dizer que a grandeza da dispersão do seu significado é proporcional ao número de corações que batem e de almas que respiram.

Para alguns é a celebração mais desejada do ano, seja em virtude das prendas ofertadas e recebidas, seja pelo tempo em família, que para muitos é o melhor presente que se pode ter. O recente Eurobarómetro, de Novembro de 2021, dá-nos indicação de que a entidade mais prezada pelos europeus, a título pessoal, é a família (81%) e o valor mais importante é cuidar dos que são próximos (77%). O Natal é uma forma de assinalar essa comunhão familiar, cujas raízes se alicerçam no cuidar. É a vida a homenagear a vida e a lembrar que algo mais forte nos une, além do sangue que corre nas veias.

Mas, o Natal também é recordar, de forma mais ou menos dolorosa, os que partiram desta vida terrena, mas que permanecem vivos dentro de nós. Os que podendo hipoteticamente estar, não estão, porque os desacertos da vida e as curvas e contracurvas dos corações não o permitem. Os que unidos permanecem nas suas infelicidades partilhando, nesta quadra, o mesmo chão de mármore, uns veladamente, outros sem saber escondê-lo. Os que condenados foram a uma fatal solidão pelos seus, sentindo-se oprimidos, humilhados, maltratados e despojados da sua dignidade humana, apenas por serem diferentes, esbarrando em muros de incompreensão e intolerância. O Natal, para uma imensa minoria, também é isto!

Este ano, ele surge numa versão pandémica diferente: o receio de que a vacina seja insuficiente para nos proteger e a lembrança de uma factura demasiado pesada, paga no Natal passado, por ousarmos celebrar a vida em família. Segundo o site Our World in Data, mais de metade da população mundial (55%) recebeu já, pelo menos, uma dose da vacina. Em Portugal a percentagem é de 89%. A Alemanha (69%), a França (70%), o Reino Unido (68%), os Estados Unidos (60%) ou a China (75%) apresentam, à data, taxas mais modestas de vacinação. A que se deverá este sucesso nacional? A múltiplos factores, entre eles um trabalho eficaz na compra, armazenamento e distribuição das vacinas.

O que aconteceu na Alemanha, com menos 20% de vacinados ou com os Estados Unidos com cerca de 30% a menos que nós? Não se conseguiram organizar tão bem? Acredito menos no sucesso isolado de um D. Sebastião messiânico e mais num colectivo de heróis que são os nossos profissionais de saúde. Este sucesso não é de agora, já tem sido alcançado noutras campanhas de vacinação. Não nos esqueçamos de onde vem o cimento! Portugal tem esta taxa de vacinação porque trabalha para isso há anos!

A vacinação é a intervenção de saúde com maior custo-eficácia que existe. A título de exemplo, quase todo o aumento da sobrevivência infantil no mundo é conseguido com medidas preventivas fora dos hospitais e metade desse aumento acontece porque as mães sabem ler e escrever. A prevenção e a literacia em saúde são fundamentais para a adopção de hábitos de vida saudáveis e para a mudança de comportamentos inadequados! E isto não se faz de um dia para o outro!

Uma leitura apressada dos números levaria a concluir que, em Portugal, estamos bem encaminhados. Só que não é bem assim! Nos países com rendimentos mais baixos, a taxa de vacinação é de apenas 6%. O que revela que o planeamento tem sido feito numa lógica territorial de olhar para o umbigo, quando é sabido que o vírus se espalha de forma democrática, sem olhar a fronteiras, nem pedir licença para entrar. Para nos salvarmos, temos de garantir que os cuidados de saúde chegam a todos, em toda a parte!

Neste Natal reequacione o seu conceito de família! Este vírus veio-nos mostrar a importância da coesão social de uma unidade familiar mais alargada chamada Humanidade!

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