Apichatpong Weerasethakul: toda a memória do mundo
Dos nossos sonhos — e dos filmes— sairão médicos e monges; mulheres e fantasmas; a floresta, espaço maravilhoso que nos deixa perplexos; e também o desejo e dos corpos, materialidade que seduz, a todo o tempo, o espectador de Apichatpong.
Em Febre Tropical, de 2004, vemos um soldado, perdido na floresta. Ele desafia as histórias sobre uma figura estranha que vive no meio da natureza. A certa altura, é interpelado por um pirilampo. A luz esfusiante desse pequeno ser aproxima-se de uma árvore, que está intensamente iluminada por uma constelação de pirilampos. É uma imagem encantatória que provoca um certo estranhamento; e é uma imagem muito singular para caracterizar o cinema de Apichatpong Weerasethakul, o cineasta tailandês que é hoje uma das figuras centrais do cinema contemporâneo. Por ele e pelos seus filmes têm passado as forças transformadoras de um cinema sensitivo, que se funda em processos de relação entre o humano e o não-humano; e das passagens íntimas entre corpos e coisas. Para o cineasta, o acto de sonhar reflecte uma necessidade de uma alteridade, colocando-se precisamente no centro de um espaço liminal onde o nosso conhecimento se torna precário. Obriga-nos a deslocar o nosso olhar para experimentar melhor este cinema e nos despirmos das preconcepções do nosso mundo visível.
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