Nestas ilustrações Camões e Pessoa passeiam como Beatles — e Santo António é babysitter de Jesus

Na conta de Instagram Nem Bom Vento, a História de Portugal é ilustrada segundo o olhar de uma espanhola. Com o objectivo de provar que “Portugal não é Espanha a preto e branco”, Beatriz Padrón Navarta dá cor (e humor) às mais ilustres figuras nacionais.

Nem bom vento
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Nem bom vento

Nestas ilustrações Santo António é o babysitter do menino Jesus, Camões e Fernando Pessoa passeiam pela Avenida da Liberdade como se fossem os Beatles e as rainhas e cunhadas Joana e Isabel de Avis detestam-se até quando o tema são as prendas de Natal.

É assim, com uma mistura de verdade e outra de ficção, que a espanhola Beatriz Padrón Navarta retrata a história antiga e contemporânea de Portugal no projecto Nem Bom Vento. “O meu objectivo não é contar a história, é simplesmente despertar a curiosidade das pessoas. Acho que o humor ajuda a acordar e pensar ‘será que isto é verdade? Será que aconteceu assim mesmo?’ Tento transmitir qualquer coisa, até mesmo com o olhar”, explica, em conversa com o P3.

Do projecto de ilustração, que nasceu em 2019 para mostrar aos espanhóis que “Portugal não é Espanha a preto e branco”, nasceram as “amizades ibéricas” que privilegiam sempre o lado português. E se o tema fosse uma batalha entre os dois países? Nesse caso, confessa a artista de 38 anos, a tendência seria ilustrar “uma dança”, contada desde a perspectiva espanhola.

Os desenhos aqui partilhados resultam de várias horas de criação e, principalmente, de pesquisa. Até cada imagem estar completa é necessário pelo menos uma semana “para conhecer a personagem, ter o ritmo e a cor da pessoa”, explica a professora do ensino básico. O primeiro traço surge no momento da primeira curiosidade sobre a história da pessoa. Ainda assim, há sempre figuras mais trabalhosas, como as princesas portuguesas, cujo sangue azul resiste em relacionar-se com o desta artista – que até já dançou flamenco com a embaixadora espanhola na Eslováquia.

E quando faltam personagens, criam-se novas que representam as várias zonas do país, como a Saloia, com a crítica divertida desde o campo, a alentejana Dona Liz e ainda a algarvia Margarida, que não tem medo de dizer o que pensa e apregoa aos quatro ventos que o café espanhol não tem muita qualidade.

Para a ilustradora, a inspiração pode ser procurada, mas também surge “com a vida”. Tropeça nos livros, nas notícias, nos jornais – e basicamente em tudo quanto é texto – e vai encontrando material para o próximo desenho que partilha na conta de Instagram. “Há alturas em que já não sei muito bem se estou a ler sobre Portugal ou sobre Espanha. Política, economia, ciência, arte, está tudo aqui misturado e, às vezes, não sei se estou num sítio ou noutro”, confessa.

No final, as páginas de história fundem-se com a actualidade, originando obras, no mínimo, inesperadas. É por isso que, nestas ilustrações, a estilista norte-americana Tory Burch, que produzia e vendia cópias da tradicional camisola poveira, sendo acusada de "apropriação abusiva", foi afinal uma contratação dos próprios fabricantes. Três anos depois, 265 publicações e um podcast que já vai para a terceira temporada, Beatriz tem o sonho ilustrar Portugal de norte a sul e contar as histórias de pessoas anónimas através dos desenhos. No fundo, explica, quer ser um mapa de contos ilustrados.

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