José Pacheco. O que está mal na escola tal como a conhecemos?

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Esta semana, no podcast 45 Graus, o convidado é José Pacheco, pedagogo e educador, fundador de alguns dos projectos mais icónicos (e controversos) da educação mundial como Escola da Ponte e Escola Projecto Âncora. Convidado assíduo de escolas em todo o mundo, as suas palestras em Ted Talks já foram vistas por mais de meio milhão de pessoas, sendo uma das individualidades mais prestigiadas no mundo da educação. Hoje é co-fundador e coordenador pedagógico da Open Learning School, aquela que considera a única escola do século XXI.

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A escola é provavelmente a instituição social que menos se alterou nos últimos séculos. A vida em sociedade mudou, a política mudou, os nossos valores alteraram-se, mas a escola é ainda essencialmente aquilo que era há 200 anos, uma instituição pensada para o mundo da revolução industrial - aliás, está pensada, em muitos aspectos, como uma fábrica.

Estas características foram-na tornando crescentemente inadaptada às sociedades modernas, e esse desfasamento foi ficando cada vez mais claro à medida que a ciência e a experiência no terreno de alguns pedagogos mais dados à experimentação foram mostrando que as crianças não são máquinas, mas sim seres humanos com emoções e potencial criativo e, sobretudo, com características individuais e ritmos de aprendizagem diferentes que a escola tem de ter em consideração.

Foram surgindo, por isso, já desde o início do século passado, um conjunto de movimentos pedagógicos, diferentes entre si mas que têm em comum o facto de proporem uma mudança na escola. Falamos de movimentos como a Escola Moderna, o método Montessori, Waldorf ou Reggio Emilia. E, mais recentemente, também o método desenvolvido pelo convidado deste episódio, José Pacheco, que este começou por implementar na Escola da Ponte no final dos anos 1970, levando-o depois para o Brasil, em projectos como a Escola Projecto Âncora e a Escola Aberta de São Paulo, e que está agora a lançar novamente em Portugal, desta vez na Open Learning School.

A Escola da Ponte, em Santo Tirso, tornou-se na altura muito conhecida porque, apesar de estar localizada numa zona geográfica menos privilegiada, e apesar (ou por causa) do método de ensino alternativo que usava, conseguiu levar os seus alunos a bons resultados nos exames a nível nacional.

Mas em que consiste exactamente este método alternativo que José Pacheco propõe? A pedagogia da escola aberta tem várias diferenças importantes face ao ensino tradicional, algumas delas comuns a outras metodologias alternativas já implementadas em várias escolas (embora sejam ainda um nicho), outras verdadeiramente distintivas e até revolucionárias face à escola que conhecemos. É uma abordagem que, como outras, reconhece a individualidade dos alunos e estimula-os a aprender por si, autonomamente, seguindo a sua curiosidade e necessidades, e em que a família e a comunidade têm um papel activo.

Mas vai mais longe: é uma escola em que não há salas de aula, não há horários, não há sequer turmas, os alunos estão todos misturados - não estão divididos por anos, nem sequer por ciclos. E, mais importante, não há propriamente professores (há tutores), nem há matéria pré-definida a aprender: os alunos decidem o que aprender, com base nas suas necessidades, e o tutor não é visto como quem mais sabe, mas antes como quem orienta e guia o jovem para descobrir e assim crescer. Outra característica distintiva (e controversa) deste sistema é que não há testes: avalia-se apenas se o aluno conseguiu aprender determinada competência registando provas concretas dessa aprendizagem.

O método que José Pacheco defende implicaria, assim, uma verdadeira revolução no ensino. Como afirmava o grande cientista Carl Sagan, “alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias”. Por isso, ao longo da conversa, discute-se várias ideias que a metodologia da escola aberta propõe, sobretudo as mais disruptivas, desde a ausência de testes ao facto de os alunos terem total autonomia sobre o que aprendem.


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