O Douro ganhou mais uma praia fluvial
Todos os anos é publicada em Diário da República uma portaria onde se faz a identificação das águas balneares. Em 2021 foi criado um movimento com o intuito de defender o Douro e a sua bacia hidrográfica e nesse mesmo ano foram realizadas várias iniciativas que visavam alertar para a qualidade da água no estuário do rio Douro, em particular, tendo em conta as que eram frequentadas por milhares de veraneantes.
Pela grande afluência destaca-se a praia do Areinho, de Oliveira do Douro, situada no concelho de Vila Nova de Gaia, e a praia de Zebreiros, situada no concelho de Gondomar. Infelizmente, nenhuma dessas praias estava identificada como praia para banhos. Na verdade, nas margens do Douro dos concelhos de Vila Nova de Gaia e de Gondomar só uma praia (Lomba, Gondomar) mereceu essa honrosa classificação.
Em contraponto com este claro problema ambiental e de saúde pública, um cenário de aparente normalidade e qualidade era montado pelas câmaras municipais, levando os veraneantes a acreditar que estavam garantidas todas as condições de segurança. Importa ainda referir que nas praias não classificadas como zonas balneares, a Agência Portuguesa do Ambiente não divulga qualquer análise que permita avaliar de forma clara e inequívoca os riscos associados à prática de banhos durante a época balnear.
Felizmente, no presente ano, mais uma praia do Douro foi identificada como tendo água de qualidade balnear. As duas praias identificadas localizam-se em margens opostas no rio Douro, mas são ambas no concelho de Gondomar (praia da Lomba e praia de Melres). Há vários anos que tal não acontecia e é com alguma esperança no futuro que vemos o aumento do número de áreas balneares no Douro. Por imperativo legal, a Agência Portuguesa do Ambiente terá de divulgar os resultados das análises dessas águas durante a época balnear – aspeto muito positivo, em particular para a população que frequenta essas duas praias. Por enquanto, infelizmente continua-se a verificar que nenhuma das praias a jusante da barragem de Crestuma-Lever foi identificada como zona balnear.
Durante o último ano não foram divulgados investimentos nem medidas que levassem a uma melhoria das águas do Douro. Os problemas das linhas de saneamento são praticamente os mesmos de sempre: as ETAR situadas junto ao estuário do Douro não foram sujeitas a melhorias significativas e em várias delas os efluentes lançados nos rios ou ribeiras continuam a não sofrer um tratamento final de desinfeção. A acrescentar ao referido é expectável que este ano ocorra um aumento da movimentação de barcos turísticos no rio Douro.
Estes factos levam-nos a concluir que as classificações das praias como zonas balneares estão sempre envoltas num denso nevoeiro. Nunca se sabe se as câmaras municipais solicitam essa classificação e também nunca são divulgados os dados que levam a que uma praia seja ou não classificada como zona de banhos. Neste cenário, é extremamente complexo identificar as razões que permitiram identificar a praia de Melres como zona balnear em 2022, ou em alternativa, o que é que impediu que essa classificação não fosse atribuída em anos anteriores.
Parabéns à população de Melres que voltou a ter uma zona balnear à porta de casa. Esperamos que essa classificação venha para durar. Quantos anos teremos de esperar para termos mais zonas balneares no estuário do Douro?
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico