Se o ITER representa o sonho de energia limpa e inesgotável, não é já para amanhã. O plano actual prevê que o primeiro teste de operação da máquina, ou seja, a produção do primeiro plasma no reactor, aconteça em 2025, mas é provável que seja decidido um pequeno adiamento. “A fase de construção deve acabar dentro de uns seis anos. Depois, haverá um período de testes para comprovar que tudo funciona bem, que o sabemos controlar, de oito a dez anos, antes de se iniciarem mesmo as experiências para produzir fusão nuclear”, explica o espanhol Alberto Loarte, director da Divisão de Ciência do ITER. “Pelo ano 2035, 2037, daqui a uns 15 anos é que vamos começar a produzir energia de fusão”, salienta.
O ITER poderia funcionar até 2050, quando se imagina que poderia ter um sucessor, designado genericamente como DEMO – uma central eléctrica de fusão nuclear de demonstração, menos concentrada em questões científicas e mais preocupada com o desenvolvimento industrial. “Precisamos de alguns dos dados da operação do ITER para explorar máquinas do futuro, mas em paralelo o programa europeu de fusão e em particular o consórcio Eurofusion já está a trabalhar no desenho do futuro reactor para produzir energia eléctrica para colocar na rede”, explica Bruno Soares Gonçalves, director do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico (IST), que é o pólo em Portugal do projecto do ITER.
No entanto, isto ainda não é nada assente. “O DEMO ainda está numa fase conceptual. Aliás, nós dizemos sempre DEMO, mas há vários. Um está a ser desenhado no âmbito do consórcio EuroFusion, o Reino Unido também tem avançado muito nos seus planos de construir um reactor de demonstração, a que chamam STEP, e alguns outros países envolvidos na construção do ITER também têm projectos ambiciosos para construir um DEMO”, acrescenta Bruno Soares Gonçalves.
Mas com prazos tão dilatados, a fusão nuclear poderá resolver as nossas necessidades urgentes de energias sem emissões de gases com efeitos de estufa? “Não é para amanhã. Por isso toda a gente está a pensar que nas próximas décadas temos de basear-nos na energia de fissão, para dar tempo à energia de fusão a desenvolver-se”, diz Alberto Loarte. “Mas a longo prazo, o problema com a energia de fissão é que os resíduos, que têm aplicações militares, têm de ser guardados durante milhões de anos”, diz o físico espanhol.
“Todos os detractores vão dizer que a fusão nuclear não vai estar pronta para as metas imediatas de descarbonização”, diz Bruno Soares Gonçalves. “A minha opinião é que para cumprir as metas de descarbonização imediatas precisamos de investir nas renováveis e é inevitável passarmos pela energia nuclear, porque temos de comprar tempo, e esta é a que produz menos dióxido de carbono por quantidade de energia produzida”, afirma.
Mas depois de se conseguir demonstrar a viabilidade da fusão nuclear, as coisas devem andar rapidamente, diz. “Penso que as centrais de fusão nuclear vão crescer rapidamente. Até porque o nosso objectivo é que o custo seja comparável ou inferior ao custo das centrais nucleares tradicionais, e como tal que seja competitivo. E que seja complementar às energias renováveis”, diz Bruno Soares Gonçalves.
Alberto Loarte partilha esta visão: “Se o ITER demonstrar no final dos anos 2030, princípio dos 2040, que a fusão realmente funciona, talvez a partir de 2050 se consiga começar a desenvolver a energia de fusão com rapidez”, diz.