A paixão de Inês Torres pelo Egipto começou com o primeiro livro oferecido pelo pai, tinha nove anos. Desde então, o gosto pela história e cultura milenar daquela região levou-a a seguir egiptologia. Como é que a esfinge perdeu o nariz? chegou às livrarias nesta terça-feira.
Doutorada em egiptologia pela Universidade de Harvard, nos EUA, a investigadora no Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa procura através de uma escrita “próxima e familiar” transportar o passado para o presente de uma forma que interesse às pessoas. “Já há tantos livros sobre o Antigo Egipto e não queria que este fosse só mais um”, explica Inês Torres ao PÚBLICO.
Por isso, o livro procura responder a perguntas que, admite a especialista de 30 anos, “nunca na vida teria pensado que interessavam a alguém”. A partir de um questionário online bem como através das redes sociais e com o contributo dos alunos, Inês Torres, que leccionou Egípcio Clássico na Universidade de Harvard de 2017 a 2020, reuniu quase 50 perguntas às quais responde ao longo de 300 páginas.
Afinal, não interessa apenas saber quem era Cleópatra, mas também se os seus contemporâneos tinham animais de estimação, por exemplo. Para a egiptóloga é uma questão de “humanizar o passado”, pois é desta forma que se acaba “por humanizar o presente”. E justifica: “Percebemos que eram pessoas que passavam pelas mesmas coisas que nós.”
As diferentes perguntas foram inseridas em cinco capítulos: A Vida e o Quotidiano; O Mundo Funerário; A Monarquia e a Administração; A Religião; e O Antigo Egipto no Mundo Moderno. “Aquilo que gostei mesmo de escrever foi a secção sobre a vida e o quotidiano”, conta. “Apesar das diferenças, a humanidade continua a ser muito semelhante”, diz. Da alimentação ao desporto e ao lazer, os antigos egípcios comiam os mesmos alimentos, praticavam alguns dos mesmos desportos, ouviam música e dançavam. E, sim, tinham animais de estimação. Como hoje, os cães e os gatos eram populares, mas também os macacos.
A história no presente
Com este livro, Inês Torres defende a importância de perceber que “a nossa existência é muito mais do que aquilo que nós somos agora, e tem a ver com todas as pessoas que viveram antes de nós”. Ao PÚBLICO, a especialista reflecte sobre esse legado e a importância dos museus como os “maiores espelhos” da história, como “espaços de aprendizagem absolutamente fantásticos”.
No entanto, nota como estes “estão muito ligados ao colonialismo europeu”. No caso dos artefactos egípcios, presentes em tantos museus por toda a Europa, “é importante percebermos por que razão, especialmente no mundo ocidental, temos acesso a tantas peças egípcias”, desde o busto de Nefertiti à Pedra de Roseta, acrescenta, e defende que os leitores devem também reflectir sobre esta questão.
E quanto ao nariz da Grande Esfinge de Gizé? Ao contrário do que diz o mito, não terá sido Napoleão a destruí-lo, já que desde o século X que não se sabe do paradeiro daquela peça. Inês Torres quer agora dedicar-se ao podcast Três Egiptólogues Entram Num Bar e à sua página na rede social Instagram, mas não fecha as portas a um novo livro, “mais visual”, promete.
Texto editado por Bárbara Wong