Na gruta dos mil budas
Perto da confluência do Nam Khan com o Mekong tomei um barco até Pak Ou, a Gruta dos Mil Budas. Por umas nesgas da caverna entrava luz suficiente para ver esculturinhas de todos os tamanhos e em todos os cantos, expostas como num armazém de brinquedos. A cortina do teatro deixava ver lá em baixo o emaranhado tropical das margens do Mekong. Era uma pergunta retórica, inútil e inevitável: servia para quê olhar?
A luz do candeeiro fazia mais escuro um recôncavo do braço. Uma fracção de segundo. A sequência seguinte de néon enchia o quarto de uma luz agónica. Não sei se lhe chame budista ou de sacristia. Um tipo ali deitado lembrar-se-ia das luzes dos cafés manchegos, com galgos famélicos a dormitar à porta dos moinhos de Alcázar de San Juan. Os lençóis eram genuinamente sintéticos e a ventoinha um drone desengonçado a gemer na insuportável noite de Banguecoque.
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