Doze anos letivos, uma aventura obrigatória

É sabido como este momento, para muitos pais, corresponde ao verdadeiro corte do “cordão umbilical”. Mantenha, pois, uma postura segura e calma.

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É importante recordar como foi o nosso primeiro dia e como foi bom andar na escola DR/BBC Creative

As férias chegam ao fim e, naturalmente, os dias para a reabertura das aulas estão à porta. Retomar o ritmo de trabalho coloca alguma dificuldade, mas muitos pais confrontam-se com um desafio acrescido: acompanhar os seus filhos à escola, creche ou jardim de infância, pela primeira vez.

Durante quase três meses, as atenções estiveram focadas nas brincadeiras com irmãos e amigos, em belos mergulhos no mar, em saborear gelados e bolas de Berlim, em acompanhar avós ou tios nas hortas ou em assistir à preparação das vindimas.

Porém, a vida é feita de desafios e para os mais pequenos, que entram agora, pela primeira vez, na creche, no jardim de infância ou no 1.º ciclo, começa a grande aventura!

A ida para a escola poderá despertar nas crianças o que os ingleses designam por mixed feelings: curiosidade e medo. É um tempo de novos espaços, novos rostos, novos amigos, novas rotinas. Para as crianças que já têm irmãos na escola, a superação destes receios pode até ser menor, mas é sempre impactante.

No entanto, existem procedimentos que a Academia já recomendou como desejáveis e que valerá a pena recordar.

A visita à escola antes desta se iniciar é um bom começo. Muitos pais (e bem) preocupam-se em conhecer as instalações e comprovar que são o que desejam para os seus filhos. No entanto, a maioria não leva consigo as crianças, para conhecerem também a sua opinião.

Mesmo para os mais pequeninos, recomenda-se que conheçam a futura educadora (ou educador). A passagem do colo da mãe ou do pai para uma terceira pessoa configura um momento que, do ponto de vista emocional, transborda de afeto e segurança. Se este ato puder ocorrer num ambiente calmo, intimista, facilitará que um segundo encontro corra melhor.

O primeiro dia na escola, uma data sempre marcante, e falamos agora do 1.º ciclo, suscita reações diversas, consoante a idade das crianças — umas demonstram entusiasmo, outras receio e inibição, o que é expectável, visto que situações novas, desconhecidas, geram algum temor.

Entre os pequenos mais ansiosos, é natural que, nos dias que antecedem o regresso às aulas, o seu comportamento se altere, ficando mais sensíveis, agitados ou, por exemplo, dormindo pior. A tarefa de os acalmar, principalmente os mais inseguros, torna-se especialmente difícil, mas não menos necessária.

Nestes casos, no momento de deixar a criança na escola, são inevitáveis as lágrimas a caírem pelo rosto e o sentimento de angústia de que tenham dificuldade em adaptar-se ou sofram com esta nova experiência.

Importa levar em conta, ao “entregar” uma criança, que a ansiedade e o stress causados pelos naturais “choros” dos primeiros dias são passageiros. No entanto, cabe aos pais evitar que a ansiedade e o nervosismo transpareçam, para que o momento não seja dramático e traumático para a criança. Mesmo que esta fique a protestar ou a chorar, sabemos que, pouco depois, tudo ficará bem.

É sabido como este momento, para muitos pais, corresponde ao verdadeiro corte do “cordão umbilical”. Mantenha, pois, uma postura segura e calma. A criança deverá sentir que não existe motivo para tanto drama e faça-a compreender que voltará em breve, para a levar de volta a casa, sem ceder a choros ou pressões infantis.

Outra situação a evitar é prolongar a presença dos pais junto à sala ou à entrada da escola. Por muito que lhes custe, permanecer do lado de fora da sala no primeiro dia de aulas não é uma boa opção. É preferível entregar a criança e caminhar sem olhar para trás. Quanto mais os pais tentarem acalmar a criança, mais ela chorará.

O período de ambientação depende da capacidade emocional de cada criança, da sua resiliência, se está habituada a brincar com outras crianças, se vive só com a família nuclear…

Por serem muito pequenas e ser a sua primeira vez, as crianças têm normalmente dificuldade em compreender que o afastamento dos pais não é um abandono e muitas vezes sofrem com a angústia da separação, mesmo sabendo nós, os profissionais no terreno, que quando as crianças entram nas salas tudo se acalma.

Alguns estabelecimentos de ensino optam por um horário mais curto nos primeiros dias e vão alargando o tempo de forma gradual, até que a criança associe a escola a um lugar seguro, onde é agradável estar.

É o momento para lhes explicar que ali vão acontecer coisas maravilhosas, que vão brincar com muitos meninos, ouvir histórias ou, no caso dos mais “velhinhos”, que vão aprender a ler para poderem seguir os filmes com legendas, como o papá e a mamã. Recordemos como foi o nosso primeiro dia e como foi bom andar na escola.

Outro aspeto é a conversa que se deve ter explicando à criança a importância de se deitar cedo para poder chegar à escola feliz e bem-disposta.

Deixemo-la levar o seu brinquedo preferido, já que lhe transmitirá uma sensação de segurança e conforto, e indiquemos à educadora/professora o nome que a família usa para o chamar.

A entrada para a escola representa um marco importante na vida da criança e do seu agregado familiar. Para os pais, trata-se, também, de vivenciar uma experiência nova, que exige mudanças na dinâmica familiar e ajustamento de rotinas.

Mesmo depois do primeiro dia, é importante manter uma conversa diária sobre o modo como decorreu a escola. Perguntas do tipo “Como correu o teu dia?”, “Brincaste muito?”, “O que aprendeste hoje?”, “Que história contaram na sala?”, “Quem é a tua ou o teu novo/a amiguinho/a?” demonstram à criança interesse pelas suas atividades e propiciam momentos para observar comportamentos ou reações, positivas ou negativas, da vivência na escola.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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