Um país parado
Não são boas notícias para Portugal os resultados do Eurobarómetro sobre os indicadores da actividade de física e desportiva nos países da União Europeia. A situação não podia ser mais severa: somos agora o país com piores indicadores o que vale por dizer que somos aquele que tem índices de inactividade física e desportiva mais elevados.
Os resultados são o reflexo da ineficácia das políticas de promoção da actividade física e desportiva assentes na sua generalidade numa visão neoliberal que ignora as entidades promotoras do desporto, os clubes e demais entidades associativas, e na linha das concepções europeístas dominantes assentes no individualismo, nas lógicas higienistas e em modalidades mundanas de cariz comercial centradas no hedonismo e na estetização dos corpos.
São também o resultado impressivo da ausência de políticas públicas devidamente estruturadas e medidas específicas para travar o impacto da crise pandémica no sistema desportivo e no sector do exercício físico em Portugal, conforme as organizações desportivas, por diversas ocasiões, tiveram oportunidade de alertar.
Ao contrário do sucedido noutros países europeus, em Portugal, o desporto e a actividade física estiveram ausentes das propostas aprovadas no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência e arredados do Programa Portugal 2030, numa posição marginal aos principais instrumentos de investimento e planeamento estratégico para o futuro do país.
Os fundos europeus, alocados aos diferentes programas Erasmus, não têm servido para colocar os recursos disponibilizados nas entidades que criam valor desportivo, o tecido associativo. Pela lógica desses programas e pelas dificuldades das candidaturas que requerem literacias digitais mínimas em muitos casos ausentes de uma parte significativa dos potenciais interessados. E se em alguns países estas derivas são inócuas, face ao grau de desenvolvimento existente, em países com profundas carências de meios, como é o caso de Portugal, são uma verdadeira perda de recursos para o desenvolvimento.
Acresce uma política de comunicação toda ela construída para grupos sociais com capital cultural elevado, mas inócua e não descodificável para os grupos sociais menos disponíveis para as lógicas comunicacionais centradas no corpo e nos estilos de vida saudáveis, a que se junta uma escassez no escrutínio sobre os resultados produzidos e a eficácia das medidas para retirarem o país da posição desoladora em que se encontra.
Portugal dispõe de um Plano Nacional de Desporto para Todos e de um Plano Nacional da Actividade Física, pelo que os resultados agora conhecidos não podem ser devidos à ausência de instrumentos de planeamento estratégico. De resto, seria importante conhecer a explicação que têm os responsáveis destes programas para os resultados agora conhecidos.
Pensar que os programas de promoção da actividade física e desportiva de um qualquer país europeu são replicáveis em Portugal é ignorar a realidade concreta da história da actividade física e desportiva no nosso país que sempre teve no tecido associativo o lugar por excelência da promoção dessas actividades.
Em 2019, conforme se pode ler no Programa do XXII Governo Constitucional, foi estabelecida a seguinte meta: “colocar o país no lote das 15 nações europeias com cidadãos fisicamente mais activos”.
Em 2022, o Programa do XXIII Governo Constitucional Governo reiterou esse propósito. No entanto, passado praticamente um terço do tempo previsto, os resultados são os que se acabam de conhecer: a situação não apenas não melhorou, como piorou. Como recuperar o que já se perdeu e atingir o objectivo proposto?