No que toca a moda, Steve Jobs, o falecido fundador da Apple, ficou conhecido pelo seu uniforme descontraído de camisolas pretas de gola alta, calças de ganga e sapatilhas. Mas o gigante da tecnologia também tinha algo em comum com as actuais supermodelos e influenciadoras TikTok: o amor por chinelos e sandálias Birkenstocks.
No domingo, um comprador, cuja identidade não foi revelada, adquiriu um gasto par de chinelos de camurça castanha, compostos por duas correias, que Jobs usou nos anos 70 e 80 do século passado, por mais de 218 mil dólares (quase 210 mil euros) — o preço mais alto alguma vez pago por um par de chinelos em leilão, de acordo com a Julien’s.
“Steve Jobs usou estes chinelos durante muitos momentos cruciais da história da Apple”, informou a casa de leilões. “Em 1976, ele forjou o início da Apple numa garagem de Los Altos com o co-fundador Steve Wozniak, enquanto, por acaso, usava estes chinelos.”
Os sapatos foram arrematados por 218.750 dólares (209.818€), mas inicialmente tinham sido avaliados entre 60 e 80 mil dólares — uma quantia pesada considerando que um novo par do mesmo modelo é vendido por 125 dólares (em Portugal, rondam os 100€).
A pequena fortuna paga pelo calçado ortopédico vintage vem numa altura em que a marca Birkenstocks, dos “sapatos feios” e da invenção de “cama para o pé”, voltou a ser uma das tendências, vendendo como pãezinhos quentes enquanto os fãs, que incluem desde influenciadoras das redes sociais até avós, acalentam desesperadamente a esperança de ter um par.
A Birkenstock começou na Alemanha em 1774, e a empresa vendia palmilhas antes dos sapatos. Quando a marca foi introduzida nos Estados Unidos, em 1966, tornou-se uma das favoritas entre o estereótipo “abraços a árvores, condução Volvo, comedor de granola”, relatou a Adweek.
Os chinelos de Steve Jobs datam dos tempos do fundador da Apple como um “apoiante ecológico, alternativo e New Age”, de acordo com aJulien's. Tendo abandonado o Reed College, em Portland, Oregon, em 1972, mudou-se para um pomar de maçãs transformado numa comuna hippie e procurou inspiração durante uma viagem à Índia. Em 1976, Jobs, juntamente com Wozniak e Ronald Wayne, criou uma empresa informática que acabaria por revolucionar o mundo da tecnologia.
Durante esta década da sua vida, Jobs teve uma propensão para usar Birks. Segundo consta, ele usava constantemente os seus Birkenstocks — mesmo durante o Inverno, disse à edição alemã da Vogue, em 2018, a sua primeira namorada e mãe do seu filho, Chrisann Brennan.
“Os chinelos faziam parte do seu lado simples. Eram o seu uniforme. O óptimo de um uniforme é que não tem de se preocupar com o que vestir de manhã”, disse Brennan à revista. “É por isso que os chinelos Birkenstocks eram tão importantes para ele.”
Jobs também detestava acumular coisas, lembrou Mark Sheff, que era gerente imobiliário da casa do fundador da Apple, em Albany, Califórnia, à Insider. Foi durante um dos episódios de limpeza ao roupeiro de Jobs que Sheff recolheu o par de Birkenstocks que foram, décadas mais tarde, leiloados após 19 lances.
“Guardámos algumas, partilhámos outras com os paisagistas e amigos e trouxemos umas para Goodwill. A colecção com que acabámos é bastante aleatória”, disse Sheff à Insider sobre as coisas que a família deitou fora, acrescentando que o seu então chefe “guardava muito poucas coisas”.
Desde que Jobs morreu, de cancro no pâncreas, em 2011, os seus chinelos gastos foram apresentadas numa série de exposições, de Milão a Nova Iorque e até na sede da Birkenstock, na Alemanha.
E agora vão para a casa de algum afortunado comprador, que também receberá um token não-fungível, ou NFT, com uma “representação digital 360°” dos chinelos e o livro de Jean Pigozzi The 213 Most Important Men in My Life, que tem uma fotografia de Jobs com os Birkenstock calçados.