Nova Iorque declara guerra aos roedores — e está à procura de um “czar dos ratos”

O candidato deve ser aventureiro e ter “espírito sanguinário”, diz a autarquia. Cidade procura assim combater a praga de ratos que atacam pombos e roubam comida.

Foto
Nova Iorque está a lutar contra os roedores – e está à procura de um “czar dos ratos” para vencer Joshua J. Cotten/Unsplash

Está a preparar-se uma guerra em Nova Iorque e o banho de sangue está prestes a começar – pelo menos é o que os governantes da cidade esperam enquanto procuram um novo “czar dos ratos”.

A luta dos ratos pela supremacia na Big Apple é uma batalha perdida há muito tempo – contudo, estes animais estão a ganhar força. Embora o número de humanos ainda seja superior ao de ratos, a população de roedores está a aumentar devido ao buffet de lixo diário da cidade. O Departamento de Saneamento afirma que os avistamentos de ratos aumentaram em 71% desde Outubro de 2020.

Embora os exterminadores da cidade tenham dado o seu melhor, deparam-se com uma espécie de movimento de resistência à medida que os inimigos de quatro patas escapam para cantos escuros e fogem dos cães de caça. As artimanhas dos roedores incluem assediar animais de estimação, atacar pombos, roubar comida sem piedade e enviar pessoas para o hospital – e, ocasionalmente, para a morte.

O mayor Eric Adams está farto: “Não há nada que odeie mais do que ratos”, escreveu no Twitter.

Uma nova vaga de emprego para “director de mitigação de roedores”, publicada esta semana, é quase tão rigorosa como o ódio dos funcionários da cidade contra os ratos. Para o trabalho são pedidas algumas exigências, entre as quais “carácter aventureiro, humor astuto e atitude intimidatória”. A par disto, são necessárias competências em Microsoft Word, Excel e PowerPoint, licenciatura e uma casa na cidade.

“Se tens a vontade, a determinação e o instinto assassino necessários para combater a população imparável de ratos da cidade de Nova Iorque – então, o teu trabalho de sonho espera-te”, escreveu Adams.

O cargo vem com um salário entre 120 mil e 170 mil dólares (114 e 162 mil euros, respectivamente), muito mais do que o rendimento médio de 67 mil dólares (64 mil euros) de uma família nova-iorquina. Mas fica desde já o alerta: o trabalho não é para picuinhas – o “czar dos ratos” deve utilizar “técnicas práticas para exterminar roedores com autoridade e eficiência”.

“O candidato ideal é altamente motivado e um tanto sanguinário, determinado a olhar para todas as soluções de vários ângulos, incluindo a melhoria da eficiência operacional, recolha de dados, inovação tecnológica, gestão do lixo e abate maciço”, lê-se no anúncio, que considera o cargo um “trabalho 24 horas por dia e sete dias por semana, que requer resistência e engenho”.

A pessoa que ocupar o posto terá como superior a vice-presidente Meera Joshi, que nutre... sentimentos fortes por roedores. “Astutos, vorazes e prodigiosos. Os ratos de Nova Iorque são lendários pelas suas capacidades de sobrevivência, mas não governam esta cidade – nós governamos”, escreveu no Twitter. “Tens o que é preciso para liderares a nossa guerra contra os ratos?”

Mas apesar de a cruzada contra ratos ter atingido o pico este ano em Nova Iorque, a antipatia para com estes animais já vem de longe. Segundo com um estudo sobre população global de ratos-castanhos, os roedores que se escondem nos contentores do lixo em cidades como Nova Iorque e Washington, D.C. têm origem na China e na Mongólia – e são o resultado de séculos de comércio global.

Ao recolher amostras de ADN de ratos em 30 países, os investigadores descobriram que, embora os animais já existam há centenas de milhares de anos, a conquista mundial deu-se sobretudo nos últimos três séculos. Escondido no interior de navios, o rato-castanho chegou à Europa nos anos 1500 e depois ao hemisfério ocidental, África e Austrália quando os colonizadores chegaram.

Embora os ratos se tenham, eventualmente, espalhado pelos Estados Unidos, estima-se que não exista uma cidade que historicamente os tenha abominado tanto como Nova Iorque. Uma história publicada pelo New York Times em 1865 queixava-se dos roedores “audaciosos” que ameaçavam os pequenos cães em plena luz do dia.

“Nova Iorque está rapidamente a ganhar uma notoriedade pouco invejável por ter um grande número de ratos e outros incómodos domésticos, e se o aumento continuar ao ritmo actual por muito mais tempo será necessário que se siga o exemplo dos burgueses de Hamelin e se recorra a um flautista para atrair os vermes e os destruir”, lê-se no artigo.

Quase 160 anos depois, uma flautista de Hamelin ainda tem de salvar uma cidade que ainda não é a que tem mais ratos nos EUA – esse título pertence a Chicago há oito anos consecutivos, de acordo com um estudo anual da empresa de controlo de pragas Orkin.

Mas com mais de oito milhões de residentes que erguem as tochas contra os cerca de dois milhões de roedores da cidade de Nova Iorque – e a procura por uma mente brilhante que seja capaz de os exterminar – é provável que os ratos “odeiem isto”, como afirmou o gabinete do mayor.

“Isto não é o Ratatouille”, disse Shaun Abreu, membro do conselho municipal de Nova Iorque, durante uma conferência de imprensa em Outubro, numa referência ao filme animado da Pixar sobre um rato que sabe cozinhar. “Os ratos não são nossos amigos.”

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

Sugerir correcção
Comentar