Pais helicóptero: os que sobrevoam a vida dos filhos e vigiam num modelo de 360º
A criança não deve ser excessivamente controlada, porque educar não é asfixiar e não se lhes podem “cortar as asas”.
A superproteção pode ser definida como a atenção excessiva dedicada pelos pais aos seus filhos. Por vezes, torna-se difícil estabelecer a linha que estabelece a fronteira com a toxicidade emocional.
O excesso de controlo é diametralmente oposto à missão de educar. A criança não deve ser excessivamente controlada, porque educar não é asfixiar e não se lhes podem “cortar as asas”, para que, no dia de amanhã, possam ser capazes de tomar decisões e ser responsáveis pelos seus atos.
No entanto, o termo “superproteção” encerra em si mais significados do que imaginamos.
A verdade é que, hoje, os pais estão demasiado focados na vida dos filhos: na escola, na ocupação dos tempos livres, nos amiguinhos, nas brincadeiras…
Estão demasiado presentes. Acreditam que, assim, são melhores pais. No entanto, os estudos efetuados nessa linha refletem que o equilíbrio emocional e pessoal das crianças está muito longe de espelhar resultado dessa opção.
Os pais interiorizaram o perfil do que, para eles, é o “filho perfeito” e, além disso, nessa esfera de perfeição incluem figuras de referência, também elas perfeitas. Isso não existe.
O que por vezes acontece é que, à medida que o tempo corre, tomam consciência que os filhos, afinal, não correspondem a esse “ideal” que projetaram e a deceção instala-se, tornando muitas vezes a relação “azeda” e fria, sem que ambas as partes tomem disso consciência. Por vezes, é mesmo conveniente a ajuda de um profissional, porquanto, caso contrário, ficarão danos irreparáveis pela vida fora.
Mas o sentimento de deceção não é só para os pais: também a criança desvenda essa frustração no olhar dos pais e começa a desenvolver um sentimento de fracasso e de inferioridade.
Um aspeto a ter em conta é que a superproteção anda de mãos dadas com o excesso de “atividades educativas”. É comum que esses pais superprotetores canalizem os filhos para várias atividades extracurriculares, muitas delas sem qualquer interesse para as crianças e sem que estas opinem sobre as escolhas efetuadas.
Está provado que pais superprotetores não toleram o erro nos filhos. Cada esforço que desenvolvem é para criar filhos competentes, imunes ao erro ou ao fracasso, e algo assim é impossível.
Não é a errar que se aprende, mas a corrigir o erro. Se a criança o não corrigir, para que não volte a reproduzi-lo, para que da próxima vez não o repita, não aprenderá – ficará só com o registo do erro.
Há que fazer compreender à criança onde e porque errou, e verificar se na próxima vez em que realizar a mesma tarefa tem a mesma atitude. Seguramente, esta forma de educar será muito mais apropriada.
Protegemos as crianças para que não caiam, para que sigam pelo caminho correto, mas essa proteção não as deve impedir de ter voz própria e, sobretudo, de que possam cometer erros e aprender com eles.
Outro aspeto a considerar, pela sua importância, prende-se com a atitude de “autopenalização” que muitas crianças revelam, agindo como seus próprios juízes de avaliação, quando não conseguem atingir os níveis muito elevados que lhes são exigidos, tornando-se tristes e fechando-se no seu mundo.
Sabemos que criar uma criança é, acima de tudo, proteger, mas essa proteção deve basear-se em critérios de bom senso e equilíbrio.
Uma criança que se sente protegida e reconhecida pelos progenitores ou outros cuidadores significativos tem maior autoestima para tomar iniciativa, para não ter medo e para crescer com maturidade e responsabilidade, porque proteger não é superproteger.
O apego e a força do vínculo são indispensáveis, sobretudo nos primeiros anos de vida. No entanto, a partir dos sete ou oito anos, as crianças dão um salto de amadurecimento muito importante.
É o momento em que começam a reclamar direitos, em que tomam consciência da justiça e da moral. É a etapa anterior à adolescência caótica, fase em que hão-de tomar decisões que podem surpreender.
Assim, devemos orientar a criança, sem interferir nem solucionar os problemas com que se depara, para que seja ela a conseguir atingir o objetivo a que se propõe, e desta forma propiciar-lhe um melhor desenvolvimento da sua saúde mental, física e relacional.
Os pais superprotetores e ultracontroladores podem produzir na criança um efeito muito negativo que poderá afetar o desenvolvimento da criança para lidar de forma correta com suas emoções e comportamentos.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990