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Porque é que o luto por um animal pode ser mais difícil do que perder uma pessoa?

Algumas pessoas desenvolvem laços mais íntimos com os seus animais. A eutanásia pode ajudar a lidar com a perda que ainda não é totalmente aceite pela sociedade.

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Porque é que o luto por um animal de estimação pode ser mais difícil do que perder uma pessoa? Jairo Alzate/Unsplash,Jairo Alzate/Unsplash

Muitas das pessoas que têm animais de estimação sabem que as relações que têm com estes podem estar no mesmo nível emocional do que as que partilham com outros seres humanos – e a investigação científica apoia isto.

Os elementos-chave para a ligação humana passam por encarar a outro pessoa como uma fonte segura de conforto, procurando-a quando estamos angustiados, sentindo prazer ao estar com ela ou a sua falta quando está longe. Os investigadores também identificaram estas características nas nossas relações com os animais de estimação.

No entanto, é complexo. Alguns há quem seja mais propenso a desenvolver laços íntimos com os animais. Isto inclui idosos isolados, pessoas que tenham perdido a confiança nos humanos e que dependam de animais de assistência.

Da mesma forma, os investigadores descobriram ainda que as nossas relações com animais peludos, com escamas e penas têm um preço, já que sofremos com a sua perda. Contudo, alguns aspectos do luto por um animal de estimação são únicos.

Eutanásia

Para muitas pessoas, a morte de um animal pode ser a única experiência que têm de luto ligada à eutanásia. Sentir culpa ou dúvida sobre a decisão de o fazer pode complicar [o processo de] perda. Por exemplo, estudos concluíram que as divergências nas famílias sobre se é (ou era) correcto pôr um animal de estimação a dormir podem ser particularmente desafiante.

Ainda assim, a eutanásia também dá às pessoas uma oportunidade de se prepararem para a morte, uma vez que têm a oportunidade de dizer adeus e planear os momentos finais para expressar amor e respeito, como dar-lhe a refeição favorita, passarem a noite juntos ou dar um último adeus.

Contudo, existem grandes diferenças nas respostas das pessoas sobre eutanasiar animais de estimação. Um estudo israelita descobriu que depois de terem seguido este procedimento, 83% das pessoas sentiram ter tomado a decisão certa e acreditavam ter dado uma morte mais digna e assim minimizar o sofrimento do animal.

No entanto, um estudo canadiano revelou que 16% dos participantes que eutanasiaram os seus animais de estimação "se sentiam como assassinos". Na mesma linha, uma investigação americana mostrou como esta decisão pode ser variada, uma vez que 41% das pessoas se sentiram culpadas e 4% experienciaram sentimentos suicidas depois terem concordado com este procedimento.

As crenças culturais, a natureza e intensidade da relação, a proximidade e a personalidade influenciam a experiência dos humanos no que toca à eutanásia de animais.

Luto marginalizado

Além do mais, este tipo de perda é ainda menos aceitável socialmente. A isto chama-se luto marginalizado e refere-se às perdas que a sociedade não aprecia ou ignora completamente. Por sua vez, isto dificulta o luto, pelo menos em público.

De acordo com os psicólogos Robert Neiymeyer e John Jordan, o luto marginalizado é o resultado de um fracasso em termos de empatia. As pessoas negam a sua própria dor pela perda do animal porque uma parte sente que é vergonhosa. Não se trata apenas de manter um lábio superior rígido no trabalho ou nos convívios. Quem perde um animal pode sentir que este luto é inaceitável para certos membros da família ou para todos os elementos.

Além disto, e num nível mais amplo, pode haver um desajuste entre a profundidade do luto e as expectativas sociais em torno da morte dos animais. Por exemplo, algumas pessoas podem reagir com desdém se alguém faltar ao trabalho ou tirar uma licença para lidar com esta perda.

A investigação sugere que quando as pessoas estão angustiadas, o luto marginalizado torna mais difícil a procura por consolo, crescimento pós-traumático e cura. Parece conter a expressão emocional de uma forma que torna tudo mais difícil de processar.

As nossas relações com os nossos animais de estimação podem ser tão importantes como as que partilhamos uns com os outros. Perdê-los não é menos doloroso e o nosso pesar reflecte isso.

Há dimensões do luto por animais de estimação que precisamos de reconhecer como únicas. Se aceitarmos este tipo de perda, podemos diminuir o sofrimento dos enlutados. Afinal de contas, somos apenas humanos.


Exclusivo P3/The Conversation
Sam Carr é professor associado de Educação com Psicologia e Centro de Morte e Sociedade na Universidade de Bath, em Inglaterra

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