Os cães de guarda não existem

Nenhum cão nasce com sentido de moralidade e mesmo que o fizesse não seria certamente a humana.

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Os cães de guarda não existem Nuno Ferreira Santos

Há pessoas que querem uma certa raça de cão porque acreditam que serão bons “cães de guarda” ou porque desejam que o animal cumpra este papel. Mas o que é, afinal, um cão de guarda?

Algumas pessoas descrevem-no como um cão que vai atacar assaltantes ou pessoas que queiram fazer mal à família. Outros esperam que o animal tenha um sentido humano de moralidade, que valorize objectos e que saiba protegê-los. E há ainda quem o descreva como um cão que é “mau” para todos os que se aproximem, menos para as pessoas que são da família.

Um cão de guarda é muitas vezes entendido como um cão que sabe a quem e quando demonstrar comportamentos agressivos – mas também sabe ser o animal mais sociável e amigável com todas as outras pessoas. São aquilo que chamo cães de alerta e, normalmente, são os cães que temos.

A maioria ladra quando ouve um barulho fora do normal dentro ou perto da propriedade, por isso, garanto-te que são óptimos a alertar para algo suspeito que aconteça perto da tua casa. O problema está quando pensas na questão da guarda e essa sim, precisa de ser esquecida.

Os cães não são objectos que devem ser usados para a nossa protecção. São, tal como nós, animais sencientes que se assustam, sentem medo e insegurança e, muitas vezes, os comportamentos agressivos vêm precisamente destes sentimentos. Acredito que ninguém queira o cão num pátio escuro à noite petrificado de medo a ladrar para todos os sons e movimentos enquanto o apelida de “bom cão de guarda”.

Aconselho sempre as pessoas que têm dúvidas sobre qual o melhor cão de guarda a comprarem um alarme que é, sem sombra de dúvida, o melhor aviso para ladrões ou pessoas com más intenções. Um cão é um amigo, um companheiro, parte da família, um animal com sentimentos e não deve ser usado como um objecto.

Hoje em dia, dormem perto de nós, passeiam connosco, brincam com os nossos filhos, adormecem no sofá e acompanham-nos nos passeios em dias de sol. Nenhum cão nasce com sentido de moralidade e mesmo que o fizesse não seria certamente a humana.

Claro que já todos ouvimos e lemos histórias de cães que apanharam ladrões, morderam pessoas mal-intencionadas que invadiram uma propriedade ou protegeram os seus tutores durante um passeio, mas a parte romântica destas histórias leva-nos para o facto de o animal poder atacar qualquer pessoa que se aproxime do tutor.

Os cães polícia são muitas vezes dados como exemplo, mas não são. Estes cães são treinados diariamente e vivem uma vida muito específica que em nada tem a ver com a de um cão de uma família.

Não existe lugar no século XXI para tratarmos cães como objectos que podem ser descartados e usados unicamente para benefício humano e dos seus pertences. Os cães merecem mais e melhor.

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