Os animais podem tomar os nossos medicamentos?

A medicação de humanos tem uma concentração muitíssimo superior à necessária para o cão e gato. Isto quer dizer que corres o risco de sobredosear o teu animal e ter consequências graves.

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Os animais podem tomar os nossos medicamentos? Victor Grabarczyk/Unsplash

A resposta é sim e não. A fisiologia do cão e do gato, ou seja, a forma como o corpo deles funciona, tem tanto de semelhante como de diferente do nosso. Por isso, nunca deves automedicar o teu animal em casa sem indicação ou consentimento do médico veterinário.

Começo por relembrar que, a grande maioria dos fármacos que tomas hoje em dia, na sua fase de investigação e de experimentação, foi testada em animais. Como resultado, actualmente, muitos desses medicamentos são amplamente usados em humanos e animais, conhecendo-se com rigor as doses de utilização (dose sub-terapêutica, dose terapêutica, dose tóxica e dose letal). No entanto, também existem outros que não foram comercializados por falta de eficácia e/ou segurança.

Quais são as diferenças entre o anti-inflamatório que compro no veterinário para o meu animal e o que compro na farmácia para mim? Muitas. O princípio activo até pode ser o mesmo, e é este que vai desempenhar a função farmacológica no organismo, mas a concentração poderá ser muito diferente: a medicação de humanos geralmente tem uma concentração muitíssimo superior à necessária para o cão e gato. Isto quer dizer que corres o risco de sobredosear o teu animal, o que pode ter consequências graves.

Os excipientes, ou seja, as substâncias farmacologicamente inactivas que ajudam à preparação, estabilidade e até palatabilidade do princípio activo vão ser diferentes. Assim sendo, alguns medicamentos formulados para animais vão ter sabores atractivos, por exemplo a carne, que permite que o cão ou gato os aceitem mais facilmente.

Normalmente, os medicamentos para animais são formulados com ranhuras perpendiculares, que permitem a divisão dos medicamentos, conforme necessidade, sem que haja perda de substância, nomeadamente, dividindo um comprimido em quartos.

A título de exemplo, vamos designar um medicamento como "A". Eis algumas razões para consultares sempre um profissional de saúde veterinária antes de medicares o teu animal:

  • O medicamento "A" pode ser amplamente usado em humanos, mas ser tóxico para o cão e/ou para o gato;
  • Nos humanos, o fármaco "A" deve ser utilizado em dose 15 vezes superior ao do cão e 25 vezes superior ao do gato;
  • O medicamento "A", à dose X pode ter o efeito Y no organismo, enquanto à dose Z terá o efeito W. Ou seja, mediante a doença, o mesmo fármaco pode desencadear funções diferentes quando usado em diferentes doses;
  • Deverá ser usado com cautela na presença de determinada doença ou até mesmo contra-indicado;
  • Em algumas raças da mesma espécie, o medicamento “A” está contra-indicado por particularidades genéticas;
  • Por último, não pode ser utilizado em animais com idade inferior a X semanas de vida.

Recentemente, a alteração da legislação portuguesa prevê a proibição da prescrição de medicação humana por médicos veterinários, quando é comercializado o mesmo princípio activo, pela indústria farmacêutica veterinária.

A grande maioria dos antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos já existe em versão veterinária, por assim dizer, mas isto encarece os cuidados que tens com o teu animal de estimação, tendo em conta que existem tratamentos crónicos que sobrecarregam muito o orçamento familiar.

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