Da sustentabilidade à regeneração: o que muda?
Dos múltiplos deveres que a academia tem, o encargo de manter a atualidade do conhecimento a difundir e o dever de manter os conteúdos de formação atualizados são duas das responsabilidades-chave.
Sabemos o quão difícil é nos dias de hoje mantermo-nos atualizados devido à profusão de informação disponível e à velocidade vertiginosa com que ela é difundida.
Por outro lado, em vez de perseguir toda e qualquer nova “teoria”, a academia tem a responsabilidade de ser um mediador fiável entre os emissores/produtores de conhecimento e a sociedade.
Assim, para lá da capacidade de manter uma antena ativa na arena da produção de conhecimento, a academia tem a responsabilidade de produzir um raciocínio sobre a oportunidade, a qualidade e o fundamento científico do conhecimento que vai ganhando expressão pública.
Isto vem a propósito da agenda da sustentabilidade, que, embora se possa considerar que tenha tido a sua origem efetiva na edição do relatório Bruntland em 1987, se baseia em dezenas de anos anteriores de produção de conhecimento. Assim, numa área de desenvolvimento de conhecimento fundamental para o nosso futuro, têm vindo a aparecer sucessivas vagas de conceitos e abordagens que mais ou menos têm marcado a agenda e confundido os menos atentos ou deficientemente formados.
Hoje discute-se abertamente e, infelizmente, com pouca base de conhecimento as novas tendências, que facilmente são entendidas enquanto temas novos em vez de fruto da evolução natural da área de conhecimento da sustentabilidade. Assim, hoje fala-se de regeneração, enquanto uma nova área de conhecimento, quando, no entanto, se trata de uma nova evolução da agenda.
Como temos demorado a adotar as transformações necessárias, e o tempo corre contra nós, a regeneração nada é mais do que aumentarmos o grau de ambição de atingirmos os objetivos da sustentabilidade, do nosso conhecimento desde 1987. Assim, temos de acelerar a transformação e passar de abordagens de mitigação dos impactos negativos, para uma abordagem de incremento dos impactos positivos.
Numa época em que o ambiente global se encontra em estado de crise, estamos num momento de transição para ações baseadas no conceito de regeneração.
Regeneração é uma nova forma de pensar, um nível de ambição completamente novo. A regeneração visa restaurar o meio ambiente global, permitindo que todo o ecossistema floresça. Isso significa impulsionar esforços para encontrar formas de estabelecer uma nova relação com o nosso planeta, regenerando a água, o solo e o ar, enquanto fortalecemos a sociedade e criamos oportunidades de inovação para promoção da nossa economia.
Todos têm um papel a desempenhar nesta revolução regenerativa, mas, em particular, a investigação, que é um motor decisivo para a criação de inovação que abra diferentes oportunidades para esta regeneração ocorrer.
Como bom exemplo destaca-se a realidade do desperdício alimentar, que é um problema social e económico devido ao uso excessivo dos recursos naturais. Estes são limitados e finitos, levando a elevadas perdas económicas.
Todos os dias, o sistema alimentar perde ou desperdiça 30% da sua produção. No entanto, essas perdas alimentares representam uma fonte excelente de nutrientes e de outras moléculas de elevado valor acrescentado, que podem ser extraídas por meio de metodologias biotecnológicas para futuras aplicações industriais.
A integração do conceito de regeneração permite a conversão de resíduos alimentares em produtos de elevado valor, com relevantes aplicações na alimentação humana e animal, farmacêuticas ou noutros setores industriais.
Assim, a abordagem de regeneração, não apenas resolve questões ambientais, como também cria uma oportunidade para construir uma indústria de elevado valor para a produção de novos produtos, incentivando a economia circular e gerando riqueza.
Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990