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É só desgraças

A predominância de notícias negativas é acentuada pela tendência dos media em apresentar problemas, mas não soluções para eles.

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Megafone P3: É só desgraças Unsplash

Não é raro hoje em dia sentirmo-nos desmotivados assim que abrimos um site noticioso, percorremos o feed interminável do Twitter ou Instagram com notícias, ou, para uma geração diferente, assistimos ao telejornal. Mas não estamos sozinhos quando temos esta sensação. Aliás, é um fenómeno há muito estudado na psicologia e mais recentemente aplicado ao jornalismo.

A fadiga por compaixão apareceu primeiro na literatura científica relacionada com um estudo realizado sobre burnout no trabalho. O estudo analisou profissionais de saúde, cujo trabalho era prestar auxílio a pessoas, e utilizou o conceito como forma de descrever a diminuição dos sentimentos de compaixão, em relação aos pacientes em necessidade. Recentemente, o termo tem sido utilizado para descrever um fenómeno social mais abrangente, a paralisia do público em relação a problemas sociais.

Esta fadiga por compaixão expressa-se no público e na sua atenção aos problemas, porque a nossa capacidade de atenção eventualmente atinge um limite, a partir do qual um aumento na comunicação não resulta num aumento do interesse. Mais, quando é atingido o ponto de saturação, as notícias podem passar a ter um impacto negativo.

Um relatório realizado pelo Reuters Institute mostrou que 48% das pessoas entrevistadas disseram evitar as notícias porque tinham um efeito negativo no seu estado de espírito e 28% justificou este evitamento por sentir que não havia nada que pudessem fazer em relação ao que era noticiado.

Devemos então pensar que papel os media têm neste fenómeno, através das escolhas editoriais que fazem, e que papel podem ter na sua resolução. A predominância de notícias negativas é acentuada pela tendência dos media em apresentar problemas, mas não soluções para eles, contribuindo assim para a criação de um sentimento de incapacidade.

Poderá o jornalismo sair do seu tradicional papel “neutro” e procurar oferecer, a um público cansado, as soluções que procura? Estarão os jornalistas receptivos a alargar o seu conceito de objectividade? Irá esta abordagem esbater a fronteira entre jornalismo e activismo? E terão as redacções actuais, tempo para reflectir sobre estas questões?

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