Investir no nosso planeta
O futuro da humanidade está a ser posto em causa pela má gestão que se faz do planeta.
No dia Internacional da Terra, comemorado todos os anos a 22 de Abril, o foco continua a ser o mesmo de 2022: investir no planeta. Este ano será necessário mais acção e envolvimento dos governos, instituições, empresas, comunidade científica e sociedade em geral. Os diferentes relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) demonstram que a influência humana é inequivocamente responsável pelo aquecimento do planeta e pelas formas de perturbação climática sentidas, que se irão agravar nos próximos anos. O último relatório-síntese deste ano aponta para a urgência na criação de estratégias de mitigação e adaptação, redução do uso dos combustíveis fósseis e no desenvolvimento de uma economia para o século XXI que restaure a sustentabilidade do nosso planeta.
Um dos grandes problemas da estratégica política é estar apenas focada em eliminar a dependência energética de combustíveis fósseis. Apostar em energias renováveis é o “grande” objectivo. Mas combater alterações climáticas com aumento de energias renováveis, maioritariamente à custa da delapidação do património natural, é insuficiente para a sustentabilidade de um futuro próximo. Nos últimos 50 anos, o impacto da ocupação do espaço, na biomassa disponível anualmente nos ecossistemas, mostra a dominação humana proeminente na biosfera.
Num artigo publicado em Fevereiro, investigadores chilenos mostram que os seres humanos e os animais domésticos e pecuários superam em muito os animais selvagens, que representam apenas 6% da biomassa de mamíferos da Terra. Ou seja, o uso que se faz das disponibilidades dos ecossistemas do planeta está directamente ligado aos problemas ambientais, o que segue as informações veiculadas pela comunidade científica e pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA). O futuro da humanidade está a ser posto em causa pela má gestão que se faz do planeta!
A exploração de recursos para alimento (incluindo peixe e produtos agrícolas) e a produção de matérias-primas para nosso consumo e desenvolvimento económico (incluindo combustíveis, extracção e exploração de minerais) são responsáveis por mais de 90% da perda de biodiversidade, por metade das emissões de gases com efeito de estufa e pelo aumento de perturbações climáticas.
Investir em estratégias de mitigação e adaptação, como felizmente muitos municípios portugueses estão a fazer, é um grande avanço. Mas questionar sobre a eficácia da sua aplicação torna-se mais difícil. A criatividade em todos estes processos envolve o conhecimento da interligação entre clima e biodiversidade, assegurado por ecólogos, com domínio da ecologia e meio ambiente. Mas é eficaz envolver profissionais da comunicação para aumentar a sensibilização e o conhecimento do público em geral. É fácil proclamar incentivos ao desenvolvimento em energias renováveis, porque há efectivamente que parar as emissões de gases com efeito de estufa.
Mas omitir ou ignorar as metas a que Portugal se obrigou para cumprir os acordos da Convenção sobre Biodiversidade, ratificados na última reunião da COP15 para a Biodiversidade (Kunnig/Montreal, 2022), e o Pacto Ecológico da União Europeia, usando a justificação de Potencial Interesse Nacional (PIN) para o licenciamento de obras de exploração (minas, barragens, explorações comerciais, turísticas…), à custa da delapidação de ecossistemas naturais com estatuto de protecção, é no mínimo frustrante.
Algumas dessas frustrações relacionam-se com a lacuna entre política e prática, e outras com prioridades e procedimentos institucionais ou governamentais oportunos. Se a maioria das discussões, das notícias e dos debates políticos fosse em torno da dualidade clima/biodiversidade e não apenas sobre energias renováveis/clima, talvez as pessoas compreendessem e pudessem usar melhor a biodiversidade e os ecossistemas naturais. Se queremos investir na sustentabilidade do nosso planeta, há que direccionar políticas públicas e monopolizar meios de comunicação com informações científicas assertivas para o envolvimento da sociedade.