Todos nós, garantidamente, já sentimos dor física
Fazemos a análise computacional da linguagem da dor. Para tal, recolhemos depoimentos espontâneos de pessoas que sentem dor crónica a descrever ou caracterizar a sua experiência. Quantos mais, melhor.
Facilmente nos lembramos de uma dor moderada ou mesmo daquelas dores intensas, intensas, daquela sensação de urgência, de querer acabar imediatamente com a dor, para que a vida pudesse continuar normalmente.
Imaginemos agora, que a vida “normal” inclui essa dor, de forma persistente ou recorrente. Parece impossível, não é? A verdade é que mais de 30% da população portuguesa não o tem de imaginar, porque vive esta realidade, com dor dita crónica, por persistir por pelo menos três meses, mas muitas vezes estendendo-se durante vários anos, ou mesmo a vida inteira.
Para aqueles de nós que nunca sofreram de dor crónica, é difícil colocarmo-nos nos sapatos destas pessoas. Conseguimos, portanto, perceber a sensação de isolamento e falta de entendimento que pacientes de dor crónica sentem no dia-a-dia. Com o meu doutoramento, pretendemos combater exactamente isto. Para tal, analisamos computacionalmente a linguagem da dor, ou seja, a forma como os pacientes de dor crónica falam da sua própria experiência. O objectivo final é aproximar uma “objectivação” da dor, que pode ser inequivocamente entendida por todos.
Como fazemos, então, esta análise?
Primeiro, recolhemos um conjunto de depoimentos espontâneos de pessoas que sofrem de dor crónica a descrever ou caracterizar a sua experiência. Quantos mais, melhor. De seguida, desenvolvemos e aplicamos a estes depoimentos técnicas de processamento da língua natural. Um exemplo destas técnicas é a extracção automática de informação, neste caso, sintomas, zonas corporais, adjectivos utilizados para a caracterizar a dor, como “choque”, “pontada”, “formigueiro”. Finalmente, utilizamos esta informação para comparar e agrupar pacientes, quantificando a semelhança entre diferentes experiências de dor crónica. De facto, os nossos algoritmos são todos desenvolvidos segundo a hipótese de que pacientes que falam da mesma forma sobre a sua dor, têm aspectos da experiência de dor crónica em comum.
Na prática, visionamos o desenvolvimento de uma aplicação onde o médico e o paciente têm acesso a métricas como a intensidade de dor actual, as variações desta ao longo do tempo, o conjunto de pacientes que têm experiências de dor semelhantes, sugestões de tratamentos com base neste grupo, entre outros. Tudo através do que os pacientes descrevem da sua dor.
Os nossos resultados preliminares já contemplam a estimativa de intensidade de dor e a predição da patologia. Estamos agora a trabalhar na modelação da linguagem da dor, por forma a encontrarmos grupos de pacientes semelhantes e caracterizar estes grupos.
Acredito que com o meu doutoramento poderemos ter um grande impacto na vida das pessoas que sofrem de dor crónica, ajudando-as a melhor entender a sua situação, o clínico a entendê-los a elas, e conectá-las com outros que estejam a passar pelo mesmo, para que não se sintam tão isoladas.
Estudante de doutoramento do Instituto Superior Técnico a fazer investigação no INESC ID