Aos 101 anos, Fred vai ter a festa de formatura que perdeu por causa da Segunda Guerra

Fredric Taylor, de 101 anos, faltou à sua formatura, em 1943, por causa do serviço militar, em plena Segunda Guerra Mundial. Oitenta anos depois, a escola quer compensá-lo.

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Fredric Taylor alistou-se para combater na Segunda Guerra Mundial Cortesia de Linda Taylor

Quando entrou para a faculdade, no Outono de 1939, Fredric Taylor estava entusiasmado com o seu futuro. Tinha começado a estudar educação musical na escola da sua cidade natal, o Cornell College do Iowa, com o sonho de se tornar professor de música.

Depois, em Dezembro de 1941, o Japão atacou a base naval americana de Pearl Harbor, levando os Estados Unidos a entrar na Segunda Guerra Mundial. Fredric, sabendo que poderia ser recrutado, alistou-se no Corpo de Aviação do Exército no ano seguinte.

Embora tivesse completado os requisitos para a sua licenciatura no último semestre, não pôde assistir à cerimónia de graduação, em Maio de 1943: tinha sido enviado para treinar no Missouri três meses antes.

Mas neste Maio, Fredric, que tem agora 101 anos, vai finalmente subir ao palco para receber o seu diploma. No dia 14, o Cornell College vai homenagear o ex-aluno na sua cerimónia de formatura — 80 anos depois.

"Era algo que parecia estar por acabar — fazer todo o trabalho para obter o canudo e não passar pelo palco e receber o diploma", desabafa Fredric ao The Washington Post.

O homem desenvolveu uma paixão pela música quando começou a tocar sousafone na sua escola secundária de Springville, Iowa. No liceu, juntou-se aos grupos de música instrumental e coral e aprendeu a tocar bombardino e trombone e a cantar solos. Estava a estudar no Cornell College, uma pequena escola de artes em Mount Vernon, Iowa, quando o Japão atacou Pearl Harbor. A maioria dos homens foi imediatamente obrigada a registar-se, e Fredric não queria correr o risco de ser recrutado como soldado de infantaria. Poucos meses após o ataque, ele e os amigos decidiram pilotar aviões de combate.

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Fredric Taylor casou-se com Peggy Newberg, em 1944 Cortesia Linda Taylor

Assim, em Fevereiro de 1943, viajou para Jefferson Barracks, no Missouri. E, em vez de celebrar os seus últimos meses de faculdade, passou esse tempo a dormir em tendas, com pouca protecção contra a chuva e a neve. O pai de Fred foi buscar o seu diploma à Cornell.

Mais tarde, Fredric treinou em Michigan, Arkansas, Kansas, Texas e Colorado. Em Setembro de 1944, em Colorado Springs, casou-se com a sua noiva de Cornell, Peggy Newberg. Tornou-se tenente e passou o ano seguinte numa base militar em Fano, Itália. Não chegou a combater. Os seus deveres militares — e a guerra — terminaram no Outono de 1945.

Depois de regressar ao Iowa, juntou-se à Guarda Nacional Aérea do Iowa e teve uma filha, Linda, em 1948. Mas não largou a música: fez um mestrado em Educação Musical na Universidade de Drake, em meados da década de 1950. E também faltou à cerimónia de graduação, dessa vez porque estava a trabalhar em vendas para a Armour and Company, no Dakota do Sul.

Mais tarde, foi professor de Música em escolas primárias, médias e secundárias — uma profissão que manteve quando se mudou para La Mesa, Califórnia, em 1959. Dirigiu bandas escolares, que tocavam frequentemente nas cerimónias de graduação. Em cada uma delas, lembrava-se da cerimónia de formatura de Cornell que tinha perdido, julgando ter de viver com essa mágoa.

Reformou-se em 1983 e viajou por todo o país durante os verões.

Enquanto isso, a filha começou a ensinar Antropologia na Universidade de Miami, em 1989. Ver os sorrisos dos licenciados e das suas famílias nas cerimónias de graduação fez com que Linda tivesse esperança de que o seu pai pudesse ter essa experiência um dia. “É o rito de passagem”, avalia Linda, de 74 anos.

Taylor foi casado com Peggy durante mais de 75 anos; a mulher morreu, em Março de 2020, de insuficiência renal. Nessa altura, Linda percebeu que precisava de tomar medidas se o seu pai alguma vez fosse participar numa formatura.

Há alguns meses, partilhou a história do seu pai com os administradores de Cornell e perguntou-lhes se o pai poderia subir ao palco para receber o seu diploma. “Todos os estudantes merecem aquele momento em frente às suas famílias para celebrar a conclusão da faculdade, mesmo que seja 80 anos mais tarde”, concluiu o presidente da Cornell College, Jonathan Brand, num comunicado. “Além disso, Fred é um exemplo poderoso para a nossa classe de licenciados de 2023. Através de Fred, testemunhamos como os cornellianos levam vidas gratificantes e significativas servindo os outros. Este é um dia que nunca esqueceremos.”

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Taylor foi casado com Peggy durante mais de 75 anos; a mulher morreu de insuficiência renal, em Março de 2020 Cortesia Linda Taylor

Linda reservou os bilhetes de avião e as reservas de hotel e enviou-os ao pai durante o Zoom semanal da família no final de Março. Quando Fred se apercebeu de que iria passar pelo palco de Cornell, disse que ficou chocado e “contente”.

Depois de os estudantes se formarem numa cerimónia em frente a um edifício do campus, a 14 de Maio, Brand planeia convidar Fred a subir ao palco, contar a sua história e entregar-lhe em mãos o seu diploma. Em seguida, Fred liderará os formandos no lançamento dos seus chapéus, que assinala o fim dos estudos universitários.

“É a melhor despedida que há”, conclui Linda.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Carla B. Ribeiro

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