Como motivar os jovens para a profissão docente?
É óbvio que estamos a falhar no modo como os jovens são motivados para a profissão docente, e mais falhamos quando os melhores alunos não fazem essa escolha.
Por mais que a utilidade social da escola pública seja dita e proclamada, por uma ou mil vozes, haverá sempre alguém que aponte o dedo em riste por pensar que a desigualdade não faz parte da realidade educativa e que o professor tem o dever de colocar todos os alunos ao mesmo nível do conhecimento e dos resultados escolares, como se a aprendizagem não dependesse de vários fatores, sendo cada vez mais reconhecido, nos relatórios e nos estudos internacionais e nacionais, o fator socioeconómico.
O consenso não faz, assim, parte do debate sobre a educação, e o que existiu como tentativa ténue de um pacto educativo, nos finais da década de 1990, em Portugal, não passou de um esboço, que facilmente poderia fortalecer uma argumentação capaz de criar um denominador comum relativamente à política educativa e à validação dos seus processos e das suas práticas.
Ou seja, sobre matérias sensíveis educacionais não há, de facto, uma ideia comum e quanto mais diverso for o espectro das ideias mais dificilmente determinados e imprescindíveis princípios de ação se manterão perante uma mudança política ao nível da ação governativa.
Marçal Grilo bem tem apelado à consensualização de compromissos de longo prazo sobre a educação, enumerando um leque de temas sobre os quais deveria existir um entendimento mínimo, capaz de constituir os alicerces de uma ação sustentada que inclua decisões, como seria preferível, desde a educação de infância até à educação de adultos, abarcando também os ensinos básico, secundário e superior.
Mesmo que o dissenso seja visto como o que é academicamente correto, já que a existência de um coro de vozes orquestradas seria a antítese do que pode ser uma prática educativa baseada na crítica ou na reflexão, é cada mais desejável um consenso sobre a formação de professores.
Se não existe o perigo direto de a inteligência artificial generativa, baseada em modelos de linguagem, vir a substituir o professor, aceitando-se como princípio intocável que a experiência subjetiva presente na ação pedagógica constitui – e constituirá – o essencial da atividade escolar, e apesar de tais modelos estarem a ser usados como substitutos dos explicadores, mormente no período que antecede os exames nacionais, a verdade é que a escola será uma das instituições mais marcadas pela falta de profissionais, sendo elevado o número de alunos que ao longo do ano não têm a sua situação letiva regularizada.
A falta de docentes, embora se diga com razoabilidade que é um problema de muitos países e não apenas de Portugal, impõe a urgência de respostas que têm de ser dadas, e nas quais estarão envolvidas as instituições de ensino superior, sobretudo no que diz respeito à motivação de jovens para a profissão docente, na medida em que há questões organizacionais (modelo do curso), curriculares (componentes de formação) e pedagógicas (prática pedagógica supervisionada) que dependem de opções políticas concretas.
Perante uma turma de 4.º ou 6.º anos, e face à questão sobre o que gostariam de ser um dia, pouquíssimas crianças ousam dizer que desejam ser educador ou professor. Se esta resposta é normal, mais difícil é aceitar que a objeção se mantenha no final do ensino secundário ou da licenciatura, para depois optarem por um mestrado que lhes confere a habilitação profissional.
É óbvio que estamos a falhar no modo como os jovens são motivados para a profissão docente, e mais falhamos quando os melhores alunos não fazem essa escolha, ainda que a média de acesso a cursos de formação de professores tenha subido nos últimos anos.
Nesse caso, os ensinos público e privado estarão com o mesmo problema e sentirão as mesmas adversidades, sendo fundamental tornar a profissão docente mais atraente socialmente e mais desejada em termos de desenvolvimento profissional.
A formação inicial de professores torna-se, por conseguinte, prioritária no sistema educativo. Todas as vozes que a apoiem serão oportunas para garantir o que tem sido a narrativa das gerações mais bem qualificadas, cujo ponto de partida se situa não só na resposta à massificação da escola, em finais da década de 1960, mas também no modo como os jovens, a partir desse período, foram motivados pessoal, social e profissionalmente para a docência. Foi, sem dúvida, um tempo em que o consenso existiu na educação, sem a necessidade de ser muito destacado no plano discursivo.
Passadas décadas, e quando o sistema educativo volta a exigir um consenso alargado (tanto de ideias, quanto de práticas), é preciso reinventar respostas para esta questão crucial: Como motivar os jovens para a profissão docente?
E sempre que se alude a esta questão, é bom lembrar que há países em que ser professor é, de longe, uma profissão atrativa e aquela que, por questões de salário e valorização social, é uma das mais procuradas, conforme o relatório Teachers' and school heads' salaries and allowances in Europe – 2020/2021, publicado pela European Commission/EACEA/Eurydice, em 2022.
O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990