"Attenzione, Pickpocket!", uma frase popularizada em vídeos online por Monica Poli, de 57 anos, é um sinal para os turistas desavisados de que alguém está a tentar levar as suas coisas. Poli, uma habitante de Veneza, passa o seu tempo livre a percorrer as ruas à caça de carteiristas. De caminho, sensibiliza os turistas actuais e futuros para protegerem os seus pertences.
Cittadini Non Distratti, uma organização italiana cujo nome se traduz em "Cidadãos sem distracções", é um dos vários grupos europeus de luta contra os carteiristas, dirigido por voluntários que filmam e denunciam os ladrões. A organização partilha vídeos de criminosos na Internet e envia-os para os departamentos locais da polícia, num esforço para combater o que consideram ser um aumento desenfreado dos roubos após a pandemia do coronavírus. Os vídeos mostram os carteiristas a cobrir o rosto e a correr na direcção oposta, tentando sair do enquadramento com os bens roubados.
"Queremos proteger todos os turistas e informá-los sobre o que está a acontecer em Itália", afirma Poli numa entrevista ao The Washington Post. Os seus vídeos deram origem a milhares de paródias e até a uma canção remisturada do TikTok (Poli diz que não é fã), mas espera que esta maior consciência [do problema] possa minimizar os danos e reduzir as perdas dos turistas. "Se formos roubados e não formos imediatamente à polícia, o ladrão fica em liberdade", diz.
Quem são os alvos dos carteiristas?
Os carteiristas procuram viajantes distraídos e inconscientes. "Isso não quer dizer que qualquer pessoa possa ser uma presa, mas se estivermos absorvidos pelo telemóvel, estamos menos atentos ao que se passa à nossa volta", afirma Maria Pasquale, uma jornalista de viagens e autora baseada em Roma. "Ando sempre com a minha mala a tiracolo, nunca a deixo pendurada ou em cima de uma cadeira fora da minha linha de visão, e fico um pouco mais atenta se estiver numa zona com muita gente."
Estes ladrões procuram "objectos de grande valor" que estão à vista, como máquinas fotográficas, malas de marca, telemóveis, jóias caras ou uma abundância de sacos de compras. São muitas vezes vistos em vídeos a vigiar os bolsos e os sacos das pessoas e a permanecer atrás de alguém enquanto caminha.
Especialistas em viagens como Pasquale recomendam uma abordagem à viagem e aos passeios turísticos em que menos é mais. Os cintos para guardar dinheiro ou as bolsas de cintura podem ser usados debaixo de roupas largas e casacos. As pequenas bolsas de tecido são menos detectáveis do que uma mala grande e podem evitar que o dinheiro e os cartões de crédito caiam nas mãos erradas. As câmaras e os telemóveis podem ser utilizados com correias de pescoço ou de pulso para facilitar o acesso.
Como é que os carteiristas distraem os turistas?
Vídeos de carteiristas partilhados por páginas como a do Cittadini Non Distratti mostram alguns carteiristas a usar casacos sobre os braços para disfarçar os movimentos das mãos. Os indivíduos aproximam-se dos bolsos dos casacos ou das malas dos turistas e levam os seus pertences.
Lazza Ramo, um vigilante de carteiristas em Milão, de 36 anos, diz que os turistas que guardam a bagagem nos compartimentos superiores dos comboios são frequentemente visados: "Quando chegam ao destino, dão por si sem bagagem, sem carteiras, sem telemóveis."
Outros carteiristas tiram as malas do chão ou penduradas nas cadeiras dos restaurantes enquanto o alvo está distraído. Alguns trabalham em equipas, utilizando uma pessoa para distrair o alvo enquanto a outra tenta roubar os objectos. "Procure um chapéu grande ou uma camisa aberta e esvoaçante. Normalmente, trabalham aos pares ou em grupos de três ou quatro", diz Gillian Longworth McGuire, uma escritora de viagens baseada em Veneza.
Um artigo de 2006 da Slate dizia que os adolescentes são suspeitos frequentes, devido às consequências criminais mais leves. As mulheres grávidas, de acordo com Poli, também são normalmente identificadas como carteiristas nestes incidentes. Segundo ela, é mais provável que recebam penas de prisão mais curtas do que os seus homólogos masculinos para atender às suas necessidades de saúde.
Os carteiristas costumam esbarrar nas pessoas, deixar cair objectos à frente do passeio ou entornar comida, numa tentativa de criar caos e distracção. Estas situações oferecem uma oportunidade para apanhar os turistas desprevenidos. Os turistas devem tentar manter a distância das outras pessoas e estar atentos aos seus objectos pessoais quando atravessam ruas, sobem escadas ou estão em filas.
Como é que me posso proteger dos carteiristas?
Os cofres dos hotéis são um bom local para guardar passaportes e outros bens valiosos durante uma viagem ao estrangeiro. Os turistas devem limitar o número de objectos que transportam quando vão às compras, passeiam ou fazem turismo. Se for necessário levar um saco, utilize um que feche com um fecho de correr ou que feche de forma segura.
Pasquale e McGuire recomendam recursos como sacos anti-roubo com fechos de correr, cadeados e correias para telemóveis que são vendidos em grandes lojas ou online. Alguns produtos populares são o Uniqlo Nylon Crossbody Bag, o Pacsafe Daysafe Anti-Theft Tech ECONYL Crossbody Bag, o Brevite Belt Bag e o Venture 4th RFID Safe Money Belt.
O que devo fazer se for assaltado?
Os especialistas em viagens recomendam que se recorra aos serviços de emergência para resolver quaisquer ameaças à segurança. Antes de viajar, os turistas devem identificar o número dos serviços de emergência da região e guardá-lo nos contactos do telemóvel. Em Itália, na Grécia, em Espanha e no Reino Unido, os viajantes podem ligar para o 112.
O pessoal do hotel pode orientar os turistas para os recursos de segurança e responder aos pedidos de contacto com as autoridades competentes. Além disso, os viajantes podem contactar a embaixada do seu país de origem para obterem recursos valiosos e assistência local. Antes de tentar gritar ou berrar com um carteirista, McGuire e Poli recomendam que se chame a atenção das autoridades e das pessoas que rodeiam a área.
"Nunca vi ninguém tornar-se violento quando é chamado, normalmente foge. Mas, obviamente, as pessoas só devem fazer o que se sentem seguras para fazer", disse McGuire. Embora Poli tenha dito que os carteiristas geralmente não são perigosos, numa ocasião foi atacada por quatro mulheres que estavam a roubar um turista. O incidente deixou-a com ferimentos ligeiros no pescoço e um colar cervical. "Foi há quatro anos", conta. "Elas empurraram-me, mas eu continuei a fazer a mesma coisa. Não quero saber. Estamos em Itália. Tens de respeitar os turistas.”
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post