Não temos de ser pequeninos
Durante a semana que antecedeu o último jogo, ouviam-se os jogadores dizer abertamente que, se houvesse hipótese de tentar ganhar à Geórgia e conquistar a primeira vitória de Portugal num Mundial de râguebi, não a iam desperdiçar, numa demonstração de que a ambição estava lá.
Queríamos continuar a desafiar as probabilidades. Queríamos continuar a jogar acima do nosso lugar no ranking. E voltámos a jogar bem e a demonstrar que conseguimos ser competitivos.
Os primeiros 25 minutos, em que a Geórgia esteve claramente por cima, foram, para mim, cruciais para o jogo português. O facto de termos, muitas vezes in extremis, é certo, conseguido ir ficando dentro do resultado sem nunca desesperar, foi uma prova de maturidade e capacidade competitiva da equipa portuguesa e, mais importante, tornou possível que, depois do primeiro ensaio de Storti, voltássemos ao jogo.
Uma segunda parte de luxo, fez com que chegássemos ao fim com a possibilidade de ganhar o jogo. Falhada a penalidade, fica o empate como resultado.
Uma vez mais, o discurso dos jogadores portugueses foi semelhante. “Boa evolução. Jogámos bem. Mas ainda cometemos erros que, a este nível, se pagam caro. Vamos trabalhar para melhorar e na próxima semana cá estaremos outra vez”, numa demonstração de como uma equipa de alto rendimento deve ser. E, uma vez mais, sem medos ou complexos de ousar ser competitiva em palcos onde, há quem considere, que não merecemos jogar.
Neste domingo, segue-se a Austrália. Uma nação de râguebi. Uma selecção do Três Nações e vencedora de dois Campeonatos do Mundo. Um colosso do râguebi mundial, que carrega consigo 100% da responsabilidade de ganhar este jogo. Ninguém pode, por um minuto, achar que as odds para este jogo estão próximas ou equilibradas.
Mas, depois do que temos visto - contra as odds, contra a razão, contra as estatísticas e os números - acredito que podemos competir taco a taco com a Austrália. Acredito que a capacidade que tivemos em não quebrar a corda nos primeiros 25 minutos do último jogo se vai manter, e vamos ser exímios na defesa. Acredito que vamos ter a humildade de perceber que temos de lutar e dar tudo a cada lance, mas, ao mesmo tempo, a ambição de saber que a austrália tem de provar em campo o que diz a razão – que são melhores.
E se não provarem. Se não estiverem dispostos a jogar de forma concentrada e humilde; se não estiverem dispostos a “despir o smoking e vestir o fato de macaco”; se não estiverem dispostos a lutar por cada bola; aí, nesse caso teremos os “lobos”. Aqueles que não têm medo nem vergonha de sonhar em fazer o impensável. Que não têm medo de arriscar coisas grandiosas.
E, mesmo que o resultado do jogo seja o mais provável. Mesmo que a Austrália ganhe, estes “lobos” já conseguiram por Portugal a achar que “não temos de pensar pequenino”. Que, mesmo com pouco, podemos estar ao nível dos melhores do mundo.
E, perante o fado português, quem disser que isso não é uma vitória, está enganado!